27 de junho de 2008

O Jogo Perigoso de Robert Mugabe

Como um bocado de gente aqui sabe, muito provavelmente buzinado pela grande mídia internacional, o concorrente ao segundo turno das eleições presidenciais no Zimbábue, Morgan Tsvangirai, deixou o pleito em meio a uma onda de violência provocada pelas forças governamentais, a poucos dias das eleições. O atual presidente e candidato à reeleição, Robert Mugabe, manterá a votação deste final de semana, mesmo sabendo que é o único candidato.

Mugabe está no poder desde a efetiva libertação do país, em 1982. Anteriormente conhecido como Rodésia, o Zimbábue foi governado de 1965 a 1979 por um governo de supremacia branca semelhante ao apartheid sul-africano, condenado pela Inglaterra (que ainda via a Rodésia como sua colônia) e pela maioria negra do país, que se juntou em diversos movimentos de resistência armada, sendo o mais importante o Zanu-PF, liderado pelo anteriormente citado.

Após um período de transição e a efetiva tomada do poder, Mugabe instaurou um governo controverso que ganhou a rejeição da URSS (ainda que se dizendo "de esquerda"), mas conseguiu o apoio da China e da Coréia do Norte. De lá pra cá, Mugabe vem se reelegendo em pleitos "democráticos" e sufocado toda e qualquer iniciativa de oposição. O caso mais recente foi agora, e tudo indica que alguma manobra política conseguirá garantir a validade da eleição, mesmo que a maioria dos votantes anule a sua cédula.

Eis um dos casos que mais torcem a minha cabeça em Relações Internacionais. É evidente que Mugabe é um canalha, mas daí a justificar uma intervenção externa vai um longo caminho. Acho que ninguém aqui é inocente de acreditar que uma campanha militar liderada por quem quer que seja vai melhorar a situação dos zimbabuenses, até porque o principal candidato a tal medida, o Ocidente, é responsável em grande medida pela desgraça humanitária que hoje é o continente africano.

Mas fica a pergunta no ar: é justo que algum país realize um movimento bélico com o intuito de retirar Mugabe do poder? Ou se estourar uma revolução no país para removê-lo do palácio presidencial, é justo que alguma nação envie armas caso seja contatado?

Um comentário:

Shandurai disse...

Totalmente. Eu sinto que estou num determinado lugar, mas a aparência dele, no sonho, é bem diferente da vida real. O mesmo acontece com pessoas: tenho a sensação de estar com alguém cuja aparência é bem diferente da vida real, também. :)