31 de outubro de 2007

Referente ao Post Abaixo

Conseguimos. Agora, vamos rezar para que daqui pra lá a polícia não toque fogo nas favelas das cidades-sede...

29 de outubro de 2007

Contagem Regressiva














Habemus panis et circensis

Eu deveria me sentir muito culpado por ficar feliz em saber que vamos receber uma Copa do Mundo de futebol?

26 de outubro de 2007

Os Novos Brinquedinhos da Defesa

Matéria recente postada no meu think tank conservador favorito, o Defesa@Net, dá conta do programa de rearmamento das forças armadas brasileiras. Não é nenhuma novidade já que o Exército aprovou a produção do seu novo blindado sobre rodas nas instalações da Iveco/Fiat, num controvertido processo de licitação. Agora, a FAB anuncia o processo de licitação para a compra de 12 helicópteros de ataque e 12 helicópteros de transporte pesado, e a Marinha diz que o seu programa nuclear estará concluído em 2014, com o bendito submarino nuclear entrando em atividade em 2020.

Não questiono a necessidade de se manterem forças armadas modernas e bem treinadas, mas me dá calafrios ver o governo dando armamentos novos em folha para oficiais de comando com a cabeça ainda nos tempos do Duque de Caxias e na doutrina de salvação nacional. Certo que eles têm muito a agradecer ao governo Lula - a FAB mesmo não comprava caças novos desde 89. Mas os ecos das lições na ESG ainda são muito mais fortes e possuem mais apelo no imaginário dos homens de farda que qualquer outra coisa. Está aí o escândalo do livro sobre a ditadura, que não me deixa mentir, bem como repetidas declarações sobre projeção de força em outros países da América do Sul.

O negócio é que o Brasil nem em sonho pode pensar em projeção de força, ou exercer hard power, como se diz no linguajar das Relações Internacionais. Uma política de defesa consistente com nossas forças deveria estar baseada em manter uma defesa efetiva de nosso território, bem como manter operações de manutenção da paz junto à ONU. Fala-se em defesa da soberania, quando a própria soberania de nossos vizinhos sulamericanos, bem como a de alguns africanos, está em jogo por questões ideológicas. Não vejo por que teríamos de manter um caríssimo submarino nuclear quando um submarino movido a hidrogênio poderia fazer o mesmo trabalho, com custos mais baixos, embora os comandantes da MB insistam em dizer o contrário.

No fundo, no fundo, isso é a maior vontade de ser potência por parte daqueles que possuem estrelas nos ombros, ainda que seja uma vontade não concretizada.

25 de outubro de 2007

C'est Vrai Cette Mansonge?

Tudo indica que sim, de fato é verdade essa mentira. Eu estava, agora à noite, correndo o risco de ser condenado pelo meu aparelho comunista assistindo à Globo (:P), quando vi uma cena da novela das oito no mínimo chocante, ainda mais se tratando do grande satã da família Marinho: um sujeito arrotando prenconceitos a torto e a direito contra um morador de favela que estava presente a um jantar de gala (sem perceber que a empregada que o servia também era negra), a filha do mesmo que trouxe o favelado pra bancar a descolada, o preconceito "não pergunte, não conte" do resto das pessoas, um certo nível de oportunismo político do deputado presente (soi-disant judeu) ao comprar a causa do favelado para si...

Não é de hoje que a Globo me surpreende, e me assusta com isso. Tá, a cobertura das eleições de 2006 dão a entender que a velha global continua firme em forte em sua posição liberal-conservadora, e principalmente hegemônica, em nosso país. Mas eu não posso pensar de todo mal de uma emissora que tem gente que produz séries como "Hoje É Dia de Maria" e "A Pedra do Reino" (apesar dos baixos índices de audiência desta última devido ao seu alto grau de experimentalismo). Nem como mantém Caco Barcellos, o mesmo que adoraria ver a violência na favela se transformando em revolução social estilo bolchevique em uma Caros Amigos, ou um Luís Carlos Azenha, que tem um dos blogs mais ácidos da blogosfera brasileira, e ao mesmo tempo um dos mais centrados.

Marcelo Tas, que aparentemente passou para o outro lado da força (ou então nunca saiu dele), fez uma entrevista por debaixo dos panos com um repórter da Globo, durante o comício das Diretas Já na Praça da Sé, em São Paulo, lá pelos idos de 84. Eu não lembro do nome do dito cujo, mas é relativamente conhecido. O fato é que Tas perguntou a ele se não era um paradoxo cobrir um evento ao qual a Globo se opunha fortemente quando ele, o repórter, era pró-Diretas. Ele soltou que ele e muitos colegas apoiavam as Diretas e sempre que possível faziam pressão para colocar o viés próprio em matérias feitas para a Globo, muito embora sofressem pressão e o quase-onipresente corte da navalha da edição. Parece que as coisas não são exatamente tão azuis lá dentro, o que eu já desconfiava. Mas sempre é bom ter a certeza de que se está certo.

Foro de São Paulo comanda. :P

23 de outubro de 2007

Volvo e Eu














Quadraaaaaaaaaaaaaado!!!

Nunca tive. (tá, essa foi infame)

Mas não por falta de vontade. Eu adoro marcas de automóveis, mas a Volvo AB (abreviatura de Aktiebolaget, o equivalente sueco de "S.A.") é uma das marcas pelo qual eu nutro um carinho especial, mesmo quando não merece: até bem pouco tempo atrás, os Volvo eram conhecidos pelo seu design quadrado, verdadeiros caixotes. Antes disso, quando tinham o design arredondado dos anos 50 e primeira metade dos 60, a Volvo chegou a lançar um esportivo extremamente simpático, o P1800, e vendeu bastante até. Mas não tinha apelo com seu público alvo: os jovens suecos da época o chamavam de "o esportivo dos velhos".

Fundada nos anos 20 como uma subsidiária da SKF, uma fabricante de peças, a Volvo fora anteriormente uma fabricante de rolamentos, mas mudou seu foco com a independência e a presidência de dois sujeitos, Assar Gabrielsson e Gustav Larson. O seu primeiro carro de sucesso surgiu no início dos anos 50 como uma alternativa para desovar chassis de vans subutilizados: nascia a primeira wagon da marca, a PV444. Desde os anos 40 a marca tem uma reputação de confiabilidade e vanguarda no uso de equipamentos de segurança.

A divisão de automóveis da Volvo foi vendida à Ford em 1999, ficando os caminhões, motores (inclusive turbinas de aviação) e máquinas de construção com o grupo original. No entanto, a marca manteve muito de sua segurança e, verdade seja dita, melhorou bastante em termos de design. Há quem goste dos caixotes dos anos 70, 80 e 90. Mas não é nada condizente com os tempos atuais (economia de combustível, maior eficiência aerodinâmica) e com a própria imagem de segurança da marca manter um farol quadrado (ou até mesmo um duplo farol redondo, parecendo uma carreta) ou um ângulo quase reto no pára-brisas.

Os rumores sobre a venda da Volvo Cars (e de todo o grupo PAG, que inclui ainda a Jaguar e a Land Rover) continuam, com a família Wallenberg, sueca, despontando na frente como potenciais candidatos. Nada mais justo, uma vez que isso tornaria a marca novamente pertencente à terra do rei Carl Gustav e manteria o uso de plataformas da Ford. Enquanto isso, eu continuo com sonhos de mulher, filhos, e uma V50 com motor flex na garagem.

22 de outubro de 2007

R.I., Uma Cachaça

Até a semana passada, como se já não bastasse o constante estado de tensão vivido pelos habitantes do Oriente Médio, o governo turco bombardeou posições do Partido dos Trabalhadores do Curdistão no Iraque, segundo o governo do subsequente. O PKK, em sua sigla em curdo, é uma organização de caráter separatista que deseja unificar as áreas onde possuam maioria étnica no Iraque, Irã, Azerbaidjão e, claro, Turquia. Por motivos óbvios, governos dos 4 países os oprimem com mão de ferro. Saddam Hussein chegou ao cúmulo de usar armas químicas contra eles em 1987, proporcionando uma das cenas mais horrendas que já vi no fotojornalismo: um bebê morto parcialmente coberto pela mãe igualmente defunta, com a boca aberta em desespero e o rosto coberto por um pó branco proveniente do gás.

O estabelecimento de uma região autônoma no norte do Iraque foi visto como uma óbvia vitória para eles, na luta para o estabelecimento de um país na região, que é bem montanhosa. Os turcos iniciaram a ação com um ataque de artilharia, chegando a destruir uma ponte e atingindo áreas rurais. O legislativo iraquiano ainda está decidindo que ação vai tomar a respeito, se bem que não se pode esperar muita coisa de um país que está às voltas com a violência interna, uma ocupação dos EUA e um exército em péssimas condições. De qualquer jeito, era motivo de esperar-se uma crise diplomática séria, pra dizer o mínimo.

Mas vejam como as Relações Internacionais são engraçadas e surpreendentes: o PKK pediu arrego e anunciou que vai negociar uma trégua nos próximos dias com o governo de Ankara. E eu que estava apostando num recrudescimento sério do conflito ao ponto de estender-se a uma ação séria no Mediterrâneo, contra os Gregos. Acho que ainda tenho muito a aprender... e por essas e outras, com muito gosto.

Uma coisa é certa, e que não é nem absurda de se considerar: essa pode ser a desculpa perfeita para a UE recusar a candidatura turca à entrada no clubinho de Bruxelas (palpite de um conhecido meu). Sarkozy e Angela Merkel, quando souberam, devem ter dançado em cima de uma bandeira com crescente-e-estrela...

17 de outubro de 2007

Engenho do Fim do Mundo

Bush não é exatamente um gênio, mas às vezes os parvos conseguem surpreender a gente, e isso costuma acontecer quando menos se espera. O caubói de dois neurônios recentemente anunciou que o governo iraniano deveria ser impedido de conseguir armas nucleares, uma vez que tinha um líder que já havia anunciado seu desejo de "destruir Israel". Caso contrário, corria-se o risco de deflagrar a Terceira Guerra Mundial.

Até aí nada de mais (!), já que nós sabemos que tipo de bravata contra o governo iraniano os EUA soltam desde o governo Reagan. Mas ele tocou num ponto nevrálgico das relações internacionais hodiernas. A simples suspeita de que o Irã esteja desenvolvendo armamentos nucleares já colocou pra funcionar as cabecitas feas dos estrategistas militares dos EUA, França, e principalmente Israel. O Instituto de Inteligência de Israel, mais conhecido como Mossad, já conseguiu identificar com sucesso possíveis locais de reatores e de estoque de matérias-primas para a fabricação de bombas-A no país do golfo Pérsico, bem como possíveis locais de estoques de bombas.

Passados os detalhes para as Forças de Defesa de Israel, a coisa começa a descambar para a estratégia militar do tipo mais esdrúxulo possível. Há quem diga que um ataque semelhante ao ocorrido ao reator nuclear de Osirak, no Iraque, em 1981, poderia ser levado a cabo contra as instalações iranianas e o complexo nuclear de Bushehr, onde estão a maior parte das usinas do país. Só que, sabendo da existência de um bunker reforçado alguns metros abaixo do complexo, avalia-se a possibilidade do uso de uma arma nuclear de baixa intensidade para arrebentar a fortificação.

Israel sabe das implicações que um ataque deste tipo irá ter no mundo. Armas nucleares nem são necessariamente o que existe de mais potente nos arsenais modernos (os ataques de napalm contra Dresden e Tóquio mataram mais gente), mas tem um efeito psicológico fortíssimo. Isso seria a desculpa perfeita para os árabes se juntarem em peso contra os israelenses, que inevitavelmente se veria ameaçado. Para isso, eles guardam um presentinho para a posteridade, a "Opção Sansão". Como o nome indica, significa botar pra quebrar com todos aqueles que resolveram tirar uma onda com a cara do filhote de Theodor Herzl, estejam envolvidos ou não.

A hipótese de uma série de mísseis Jericho chovendo sobre as capitais árabes e de quem estiver ao alcance, e de quebra iniciando um conflito em escala global, pra mim não é o melhor dos cenários. Por um lado, Bush está certo, embora eu não concorde com ele na esmagadora maioria dos casos. Mas mais chantagem faz Israel que o Irã.

16 de outubro de 2007

Mercado Desnudo

Em recente notícia ao melhor estilo "Piratas de Silicon Valley", descobriu-se que determinados importadores de produtos de tecnologia da informação aqui no Brasil sonegaram um monte de impostos, com o objetivo de favorecer determinada companhia multinacional da área. A tal companhia, aparentemente, é uma das grandes do setor, com sede nos Estados Unidos. Estima-se que deixaram de pagar cerca de R$ 1,5 bilhão ao fisco, devidos em meio a operações ilegais.

Até agora, a Polícia Federal tem 93 mandados de busca e 44 mandatos de prisão temporária, inclusive contra altos executivos da filial da empresa no Brasil e de empresas responsáveis pela importação. Segundo a Folha de São Paulo, a quem a notícia pode ser creditada, "O esquema utilizava laranjas para importação, ocultação e patrimônio, contrabando, sonegação fiscal, falsidade ideológica, uso de documento falso, evasão de divisas e corrupção ativa e passiva.". O dinheiro e os bens eram movimentados através de empresas off-shore em paraísos fiscais caribenhos, como as Bahamas e as Ilhas Virgens Britânicas.

O que mais uma vez suscita mais uma vez a boa e velha discussão sobre a necessidade ou não de regulamentação da economia, e olha que eu vou me abster de qualquer colocação sobre o socialismo aqui. Um liberal, olhando para uma grande empresa norte-americana fruto do boom de TI nos anos 80 tendo de recorrer a uma prática digna de muambeiro da Av. Dantas Barreto, no centro do Recife, tem o argumento na ponta da língua: é o excesso de obrigações e encargos impostos pelo Estado que os fazem recorrer a isso; corte-se o Estado que os crimes serão cortados.

É difícil crer em tal argumento quando consideramos uma situação lucro/lucro, como é a da tal empresa. Produtos de TI contém um enorme valor agregado pela própria natureza do trabalho envolvido em sua fabricação. Ou seja, rios de dinheiro continuariam a fluir para as contas bancárias de todos os que se beneficiam, sejam seus empregados ou acionistas. O que se considera aqui são 300 milhões de reais (considerando as cotações do dólar no período em questão, uns 120 milhões de verdinhas) por ano a mais ou a menos no balanço contábil da filial local, o que é uma quantia irrisória se considerarmos as suas operações globais.

O problema em questão não me parece ser necessariamente a falta ou o excesso de Estado. Tá mais pra ética mesmo dos dirigentes da companhia.

15 de outubro de 2007

Inevitável

Não adianta. Só escrevo aqui porque não adianta mais negar.

Eu achava que poderia passar toda a minha vida sem ter de recorrer a esse esquema. Era evidente, pelo menos até bem pouco tempo atrás, que minha felicidade não iria depender dela, e eu estava disposto a lutar até o fim para não dobrar os joelhos. Mas, pobre ser humano, feito de carne, osso e desejos.

A pressão às vezes parece insuportável. Muitos dos que já se entregaram à ela tentavam me dizer o quanto era irresistível. De início, era um mero recurso para passar incólume pelos problemas da vida. Aos poucos, começaram a descobrir os prazeres do seu uso continuado. Até que chegou o terrível momento a partir do qual não era possível mais passar um dia sem ela.

Ela está por toda a parte, em todos os círculos sociais. Gente de todos os estratos faz uso dela. Pode ser comprada em qualquer lugar, até mesmo sob os olhos de complacência da polícia. Membros do aparato repressivo do Estado fazem uso continuado da mesma, até. Para muitas pessoas virou até mesmo um mecanismo de contato social.

Eu também me rendi. Para manter minha performance nesse mundo competitivo, não tive outra escolha.

O doce aroma da xícara de café embriaga meus sentidos.

13 de outubro de 2007

dawn

Como vocês perceberam, nesta última semana este blog ganhou cores bem pessoais, em grande parte motivado por eventos que concerniam o blog antigo.

Pois bem.

A dawn está muito bem, sim. Eu também estou muito bem. Até agora, tudo bem.

Bem, bem, bem, bem.

10 de outubro de 2007

Do Inusitado, Quando Não Deveria Ser

"No Brasil, quem briga na rua usa jiu-jitsu. Capoeira acabou virando um negócio pra gringo ver".

Seca e categórica, essa afirmação. Digna de revolta de um nacionalista mais revoltado. Mas verdadeira (e em certa medida não tão digna de revolta assim: quem conhece um mínimo de artes marciais sabe que o que os Gracie fizeram com o jiu-jitsu não tem nada a ver com a arte original). Tirando um apupo de excentricidade aqui ou ali, capoeira nunca foi algo que eu encontrasse em cada esquina. Acho que está assim desde os anos 50, 60.

Hã, até hoje.

Eu estava voltando da academia (na falta de um dojô de aikidô, e de bons professores de budo em Arcoverde, é melhor que nada) e encontrei dois meninos, assim, de uns 12 a 14 anos de idade, jogando capoeira. Sem roda, sem calça e corda de algodão cru, sem berimbau, sem nada. E jogavam direitinho, ainda que na brinca. Um deles deu até um mortal pra frente, no meio da rua.

Vivendo e aprendendo nesse mundo.

9 de outubro de 2007

Folk Rock: Take Me Home, Country Roads...

E esses dias eu baixei um álbum do Jethro Tull, o "Songs from The Wood". Um dos melhores álbuns que eu já ouvi, e que vêm me chamando cada vez mais a atenção para este gênero. Tá, Jethro Tull pode ser considerado mais como progressivo/hard rock, mas este é o primeiro álbum de uma trilogia deles que combina elementos do progressivo com o folk. A principal influência deles deriva, entre outras coisas, do fato de seu vocalista, Ian Anderson, ter se mudado nesta época para uma casa no campo. Sugestivo, não? (mais sugestivo ainda é o fato de Jethro Tull ser o nome de um inventor de um implemento agrícola do século XVIII...)

O estilo está intimamente associado com o country rock e com o rock celta. Ele consegue englobar gente, dentro desse grande guarda-chuva, gente que vai de Bob Dylan a The Thrills, de Nick Drake a Neil Young, e como eu disse antes, de Jethro Tull a Buffalo Springfield. Na periferia dessa enorme e nebulosa zona, estão gente como John Denver e Woody Guthrie, mais "raízes", por assim dizer.

A maioria desses cantores, que circulam entre EUA, Canadá, Irlanda e Reino Unido (embora existam representantes até na Hungria, conhecida por suas vastas pradarias e pelos seus tradicionais vaqueiros que parecem gaúchos), obviamente cantam coisas relativas à sua terra, embora fujam do tradicional clichê country de "minha-mulher-me-traiu-e-vou-me-consolar-com-minha-vaca". No caso de John Denver e do movimento que deu origem ao estilo, existe até mesmo um forte viés esquerdista ou anti-globalização, o que fez que, nos anos 50, o estilo fosse até mesmo alvo de acusações da caça às bruxas do macarthismo.

Mas eu não posso deixar de perceber que a maior vontade que se tem ao ouvir o estilo é de caminhar por uma estrada de terra ladeada de árvores, de sentar no terraço de um sitiozinho simpático, tomar banho de riacho, jogar baralho à noite com os amigos na mesa da casinha, e dormir ouvindo o chiado da cachoeirinha ali da várzea...

8 de outubro de 2007

Para dawn

"Mal sabe que, ao ficar maravilhado com o espetáculo de bonecos, o espectador padece de deslumbramento pelo mamulengueiro..."

"Butterfly
Warmy welcome to my garden"
(Husky Rescue - Blueberry Tree, part I)

5 de outubro de 2007

Irmanados na Secura

Quando comecei este blog, uma das minhas primeiras idéias era a de fazer um blog temático com uma comparação entre o sertão nordestino e o Outback australiano, uma região seca que, ao contrário do que todo mundo pensa, tem mais vegetação do que o deserto propriamente dito e que ocupa a maior parte do país. Mas isso não impede o lugar de ser absurdamente seco.

E realmente o é. Em condições que provavelmente são piores que as do Nordeste, já que eles não possuem uma estação de chuvas como a nossa, que normalmente vai de janeiro até maio e atinge a maior parte do território. Essa falta de chuvas faz com que o solo não tenha fertilidade nenhuma - para plantas que não sejam nativas. Isso fez com que permanecesse em grande parte preservado, com exceção de certas planícies periféricas que servem para criação de gado e ovelhas. Mas você encontra xerófitas em abundância, principalmente, hã, plantas caducifólias baixas e de galhos retorcidos e brancos na época da seca... Tá, mandacaru não tem, mas aí já era pedir demais.

A vida animal é riquíssima também. Além de ser habitat natural dos cangurus e dingos, além de outras espécies de lagartos, crocodilos e cobras, também tornou-se o lugar de preferência de animais que tornaram-se selvagens depois de abandonados pelos primeiros colonos, como certas raças de cavalos e camelos.

A cidade mais importante da região é Alice Springs, localizada bem no meio do mapa da Austrália. Em termos populacionais, Alice Springs é menor que muito município paupérrimo do sertão nordestino. Um verdadeiro cú-do-mundo de 26 mil habitantes, como se pode ver pelas fotos. Mas ela calhou de ser uma cidade equidistante no meio de um país vasto e, talvez mais importante, de uma região esparsamente povoada (o sertão nordestino é o semi-árido mais densamente povoado do mundo, então é mais fácil atribuir importância a mais e maiores núcleos populacionais). Resultado: virou entreposto de estradas e ferrovias - e, num primeiro momento, de transportes aéreos.

Fotografias da região em si, você encontra aqui, aqui, e aqui. Eu particularmente achei impressionante a semelhança da região deles com a minha, aqui em Pernambuco, pelo menos em termos geográficos. Quem conhece também vai achar parecido.

4 de outubro de 2007

A Arte da Fita no Futebol

Não é cassette, nem VHS, muito menos Betamax. A fita a qual me refiro aqui é a arte de exagerar um determinado feito, geralmente uma agressão física. O sujeito que cai sozinho depois de vislumbrar um zagueiro colocando uma perna à sua frente e fica lá, gritando de dor como se tivessem decepado os dois pés. Fazer isso é uma arte. A capacidade desses jogadores é análoga à de qualquer ator vencedor do Oscar. Ou até melhor.

Me lembrei de um Palmeiras x River Plate em uma Libertadores dessas, acho que foi 2000 ou 2001. O Palmeiras já havia perdido o primeiro jogo na Argentina e estava perdendo de novo lá no Parque Antarctica. No final do jogo, uns 43 minutos do 2o. tempo, um jogador palmeirense teve um atrito leve com um argentino na beira do campo, sem o juiz ver. Quando o brasileiro está voltando para a partida, o argentino do nada cai no chão e simula um suposto soco que levou. Resultado: Jogador palmeirense expulso sem ter feito absolutamente nada.

O goleiro Dida, do Milan e da SeleNike brasileira, deu ontem uma aula de interpretação digna de Actor's Studio. Com o Milan perdendo por 2 a 1 pro Celtic fora da casa, e tendo que dividir uma segunda posição vergonhosa com o já referido time escocês (num grupo em que o Shakhtar Donetsk está em primeiro!), eis que entra um torcedor escocês em campo correndo para comemorar o segundo gol do time. O cara teve a infelicidade de dar um tapinha no ombro de Dida, no melhor estilo "valeu pela falha", e sair em disparada.

Dida ficou puto com a provocação, é claro, e se armou para correr atrás do engraçadinho. Só que, quando estava a ponto de ensaiar um dos momentos mas hilários (e potencialmente perigosos) da história do futebol mundial, uma luz desceu direto no seu cérebro e estragou nosso barato. Caiu no chão simulando um suposto murro que levou e teve que sair de maca do campo. Agora a UEFA está analisando o caso para ver se anula o resultado do jogo e dá uma punição ao Celtic.

Lógico que punição mesmo merecia o Dida. Mas eu espero que a UEFA não seja tão sacana quanto ele...

Fhtagn

















Legenda: Por que votar em um mal menor?

2 de outubro de 2007

Matou a Pau

O Radiohead (na minha pronúncia escocesa "cúl", Rrrrráidiohêd), segundo o Marcus Pessoa, do Velho do Farol, deu a maior rasteira que uma banda indie já deu na indústria fonográfica: a partir do dia 10 desse mês, qualquer pessoa pode baixar o disco novo deles, o In Rainbows, pelo valor que quiser, no site da banda ou do disco.

Atentem bem: o valor que quiser. Significa que, se você achar que o valor do disco dos caras é zero ou quiser baixar na faixa, pode digitar £0,00 no campo em branco e vão liberar o download para você. Ao mesmo tempo eles estão oferecendo uma edição de luxo por cerca de £40 em lojas e igualmente no site, mas você pode levar os arquivos de graça. Com a garantia de que tudo vai estar funcionando bem.

Particularmente, eu sempre achei que o artista devesse trabalhar fora das gravadoras. Eu me sinto pagando um atravessador que fica com a maior parte dos lucros de um trabalhador que rala pra caramba, e de quebra tem a obrigação de vender. A arte que vá para as cucuias. Mas a iniciativa do Radiohead é especial porque mostra que sim, existe vida após o mercado fonográfico. E ela pode ser tanto rentável para o artista quanto justa para com os consumidores.

Em tempo: Marcus Pessoa colocou a notícia no orkut, na comunidade "Botequim Socialista", sem creditar as fontes. Mas verificaram nos sites da banda e do álbum que eu postei acima, e a coisa é pra valer mesmo. Podem confiar. E eu baixaria, mas fico com vergonha de não dar ao menos uns dois tostões para ajudar a causa dos caras.

1 de outubro de 2007

Marta e a Bola, Bola e Marta

Há quem diga que é melhor perder como a seleção brasileira de 1982 (de Zico, Júnior, Sócrates, Falcão...) que ganhar como a de 1994 (de gente não menos boa como Branco, Raí, Taffarel...). Eu sou desses que concorda com a frase. E também acho que ela se aplica perfeitamente à seleção feminina que perdeu a final ontem, por 2 x 0, para a Alemanha.

A impressão que eu tive, vendo o jogo, foi a de que os esterótipos normalmente aplicados aos estilos de jogar das respectivas seleções masculinas puderam ser aplicados às femininas. As brasileiras tentaram fazer o jogo bonito que vinham fazendo já desde o início da competição. Chapéus, dribles geniais, futebol arte, lindo como uma pintura de Michellangelo ou de van Dijk. Mas deve ter sido por isso também que a Itália não ficou na vanguarda do desenvolvimento da Europa, e o mesmo motivo pelo qual o capitalismo holandês dos séculos XVI e XVII não se sustentou durante muito tempo...

Em compensação, a Alemanha jogou feito uma máquina. Precisa como uma ferramenta da Bosch, como um canhão Krupp, como um carro da Audi (Vörsprung durch Technik, lembra?). Fundamentos perfeitos, marcação perfeita, ataques perfeitos. Mas, sinceramente, o futebol mais feio que já vi, e olha que isso não é bolinho para alguém que já assistiu o Grêmio x Boca Juniors da final da Libertadores desse ano. Mas serviu.

Deve ser por isso que o peso da derrota não caiu como uma pedra sobre as costas do Brasil (e não, eu não credito essa indiferença ao preconceito do brasileiro com o futebol feminino - até porque metade do Brasil, as brasileiras, viram e gostaram). Fato é que, antes de ganhar, qualquer seleção brasileira tem a obrigação de jogar bonito. Está no nosso inconsciente. Fomos mal(?)-acostumados por Garrincha, Pelé, e uma penca de outros. Que se pode fazer? É por isso que nós ficamos com tanta raiva de o Ronaldinho fazer aqueles malabarismos no Barcelona e murchar a bola na Seleção (e naquele 1 x 0 para a França). É por isso também que nós (menos os gremistas) nos sentimos vingados por Alexandre Pato naquela final de Mundial, apesar de ser cedo para afirmar qualquer coisa sobre ele. É por isso que se valoriza mais o jogador que perde um jogo mas demonstra raça, amor à camisa e encara o jogo como se fosse um espetáculo, do que aquele que faz o feijão com arroz mal-temperado e ganha por 1 x 0. Ou até mesmo 0,5 x 0.

Na visão de Marta, a sorte a abandonou. Eu não seria tão pessimista assim.