22 de dezembro de 2007

Tirando Férias

Até o dia 1º de janeiro de 2008, esse blog estará de férias. Os "habitués" daqui podem aproveitar e pegar algum livro bom pra ler neste meio tempo (eu sugiro, para quem ainda não leu, "A Paixão Segundo G.H."). Garanto que lucrarão mais que com posts meus.

Feliz Natal a todos e bom Ano Novo.

21 de dezembro de 2007

18 de dezembro de 2007

Devaneiando

Matéria do Estado de S. Paulo via o escandaloso Defesa@Net dá conta dos planos que a Marinha do Brasil tem para depois da construção do submarino nuclear, autorizado pelo governo federal e que será declarado operacional em 2020 (!). Os prazos dizem respeito ao tempo necessário para a aquisição de tecnologias vitais para o completo ciclo de desenvolvimento da nave, desde o reator (cujo projeto, por sinal, já está pronto e será utilizado nas usinas nucleares brasileiras a serem construídas nos próximos anos) até o submarino em si, casco, sistemas eletrônicos e tudo o mais. Não fosse, na minha opinião, um absurdo construir um trambolho desses, eles ainda querem comissionar mais um bocado nos próximos anos.

Parece que eles querem partir para o ataque com tecnologias completamente novas. Vejam isso aqui:

Há também vários segredos. O maior deles, ligado ao projeto, é o da tecnologia do eixo que leva movimento à enorme hélice destinada a movimentar o navio. O maior problema nessa área é limitar ruído e vibração. Empregando um conceito derivado da construção de ultracentrífugas nacionais, empregadas no enriquecimento do urânio usado como combustível de reatores, o eixo de 80 metros será magnético, funcionando sem barulho e, melhor ainda, sem atrito entre as partes móveis.

Acho que nem J. J. Benítez teria uma idéia igual. Ok, ele escreveu sobre a propulsão magnetohidrodinâmica, mas o que os engenheiros da MB pretendem fazer é no mínimo surpreendente considerando um país de Terceiro Mundo.

E o projeto da base para abrigar o submarino, então?

Esses gigantes vão operar a partir de uma nova base naval, que tem grande chance de ser instalada no litoral de São Paulo, ao norte de São Sebastião. Alí, no bolsão de águas calmas e profundas, onde a topografia da costa é pouco acidentada, os navios atômicos, protegidos por baterias de mísseis antiaéreos, seriam preparados para cumprir missões permanentes de patrulha. (...)

O complexo de edifícios da base será todo coberto para escapar do olho dos satélites militares. O prédio da doca funcionará com berços flutuantes e diques de drenagem - as embarcações serão movimentadas para dentro e para fora com auxílio da água do mar. Sempre rapidamente, quase sempre durante a noite, ao amanhecer, ao cair da tarde ou quando houver neblina. Recursos mínimos para reduzir - mas não evitar - a observação eletrônica.

Tudo isso - da divisão do ambiente ao compartimento onde ficará o reator, o centro de combate e até a nova base - está pronto, em escala, no discreto pavilhão M, do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), no campus da USP. Ali há maquetes de engenharia que vêm sendo periodicamente atualizadas desde os anos 80, quando o programa, então considerado secreto, teve início.

Isso me fez lembrar de um artigo que eu estava vendo na Wikipedia, quando estava pesquisando sobre a Guerra Fria. O fato é que, na histórica cidade ucraniana de Balaclava, onde ocorreu uma das mais ferrenhas batalhas da Guerra da Criméia, os soviéticos construíram uma base secreta de submarinos que operariam a partir do mar Negro e projetariam-se dali para o Mediterrâneo (e talvez para o Atlântico, se os ingleses permitissem uma improvável passagem através de Gibraltar). Por fora, a base era apenas uma porta de concreto que dava acesso a um porto enorme escondido dentro de uma caverna artificial em um dos muitos promontórios do lugar. Era considerada tão resistente a ponto de resistir ao impacto direto de uma ogiva nuclear. Hoje, ela é apenas um museu.

Mas eu me pergunto, agora. Estariam os milicos da MB pensando em algo parecido?

17 de dezembro de 2007

Drops de Alguns Blogs Favoritos

O site do Hermenauta está fora do ar. Antes disso, alguns posts mais recentes haviam sido perdidos.

* * *

Rafael Galvão postou mais um texto da série "As Alegrias Que O Google Me Dá". Divirtam-se.

* * *

Eu sempre imaginei, e me assustei, com uma possibilidade de fim do mundo. Ou pelo menos do mundo como nós o conhecemos. A primeira hipótese que passou pela minha cabeça foi a de guerra nuclear, lá pelos meus 11 anos de idade - 5 anos após o fim da Guerra Fria e 13 anos depois de "The Day After". Depois, como holocausto ambiental, gente morrendo de olhos esbugalhados por não suportar um tórrido calor de 50 graus, na Sibéria. E mais tarde, com uma revolução de máquinas à la Exterminador do Futuro e, mais recentemente, Matrix. Esta última, por sinal, continua extremamente plausível na minha cabeça.

Mas Marco Aurélio dos Santos, responsável pelo Jesus Me Chicoteia, apresentou uma possibilidade ainda mais assustadora. Vejam por si só. É de não dormir esta noite.

14 de dezembro de 2007

Metapost

Eu estava com a maior preguiça do mundo de fazer um post. Fiquei matando o tempo lendo outros blogs, uns que estão aí ao lado, outros não. E me dei conta de uma coisa: a grande maioria está desatualizada, ou então fizeram o que eu fiz ontem (e que em certa medida estou fazendo hoje): inventa alguma coisa para encher espaço e ocupar uma marca na lista de meses de histórico.

Blogar é uma atividade extremamente cansativa. Não parece, mas é. Para seu blog ser interessante, é necessário tirar um coelho da cartola todos os dias, pelo menos para aqueles que se dispõem a fazer algo com atualização quase que em tempo real. E por coelho da cartola entenda-se uma coisa engraçada, uma sacadinha de gênio que fazem as pessoas rirem e voltarem mais vezes à sua caixa de comentários.

Haja cérebro. É preciso ter um ótimo senso para produzir algo realmente bom, que prenda a atenção. Senão, acaba virando uma clara prova de que você não tem nenhuma simpatia pelos servidores de hospedagem e o enche de linhas inúteis processadas nas trocentas linguagens de programação de páginas para internet.

Existem, obviamente, as exceções. O blog do Reinaldo Azevedo, por exemplo (cujo link eu me recuso a colocar por aqui). É uma porcaria de marca maior, ainda mais depois que o dito cujo foi respirar os "ares" da revista Óia (ou em matutês de matiz pernambucano, "'pia!"). No entanto, recebe uma porrada de acessos dos leitores da referida revista, que infelizmente ainda são maioria e que encontram eco em um número cada vez mais crescente de brasileiros. Sem falar, claro, no Hermê, que amiúde entra lá para pescar algo para sua principal fonte de posts engraçados.

Mas de resto? Um colega meu passou uma vez meses sem entrar no blog. Mas quando voltou, voltou com chave de ouro. Muito provavelmente esse aí não precisou fazer muito esforço para garantir sua platéia - num bom sentido, claro.

13 de dezembro de 2007

Quando Se Está Ficando Velho

Hoje comecei a usar finasterina e minoxidil. Para quem não sabe, são dois remédios que servem para controlar a alopécia androgenética.

Em bom português, tou tomando remédio pra controlar as entradas.

11 de dezembro de 2007

Ride Che Ti Fa Bene

Cabecinhas doentes na internet não faltam. É possível até que com a rede elas tenham se multiplicado. Esta pérola, escrita por um certo João Paulo Montadon, é um ótimo exemplo. O moço começa assim:

"O Partido dos Trabalhadores não apenas representa uma forte instituição mediadora entre as poderosas forças comprometidas com a desintegração e a dissolução da ordem vigente, e algumas diligências voltadas para a economia de mercado, ministradas pelo Banco Central de Henrique Meireles. É um verdadeiro establishment para a perpetuação do poder por vias democráticas."

Reza a lenda que toda teoria da conspiração tem de começar por uma premissa plausível. Ele começou com uma boa, coisa leve como o início de "Ran", do Akira Kurosawa. Depois começa a tragédia:

"Em outras palavras, o PT estabelece um liame entre o sistema de mercado e a subversão da ordem. Este delay é uma simples interpretação da influência gramscista em âmbito nacional e marxista em âmbito continental – o Foro de São Paulo"

Lógico, em seguida vem o arremate do embrulho:

"como demonstra o filósofo Olavo de Carvalho..."

Estava até demorando. Mas tem mais:

"a arquitetura de um projeto de poder destinado a perpetuar sua influência política (dentro ou fora do governo) com o fortalecimento da mentalidade esquerdista ao manipular a democracia para o amadurecimento progressivo da criminalidade pela insegurança, do analfabetismo, de movimentos e organizações sociais subversivas (ocupacional-invasoras, silvícolas, “quotistas”, “gaysistas”, feministas, abortistas, sindicalistas) e o boicote, claro, ao capitalismo."

Esse tá completo. Parece até que o cara resolveu colocar todo o repertório de clichês do Mídia Sem Máscara. E até mais um pouco:

"O excelente trabalho realizado pelo TFP, fundado em 1960, na grande São Paulo, tendo como ícone o nobre batalhador pelo conservadorismo brasileiro Plinio Corrêa de Oliveira, oferece ainda boas, porém modestas, esperanças quanto a uma fervorosa defesa patriótica pelas tradições culturais da nação brasileira esculpidas por nossa história. Apoiado em valores ocidentais, arregimentados no catolicismo judaico-cristão, luta pelo acautelamento destes valores serem implodidos pela burocracia libertária esquerdista."

É mole ou quer mais?

* * *

Alguns colegas meus gostam de assistir filmes de terror feitos com baixíssimo orçamento em todos os aspectos (principalmente de roteiro) para rir, dadas as severas incongruências da película. Quando vejo um texto desses, eu consigo entender o porquê de eles fazerem isso.

Multiplicado exponencialmente, claro.

10 de dezembro de 2007

Heart of (South) America

Dia 8 de dezembro foi dia de Nossa Senhora da Conceição, mais um dos muitos aspectos da personalidade daquela que deu a luz a Jesus Cristo e padroeira do Recife. Mas o negócio é que eu não sou nem católico e nem estou morando no Recife, então o dia da dita cuja deveria passar completamente batido pra mim. Certo? Não fosse por um pequeno detalhe...

Minha família da parte Freire foi, durante muito tempo, responsável por quase metade dos habitantes do povoado rural de Umburanas, no município de Sertânia, mas muito mais perto da sede do município de Arcoverde. Não eram ricos e tampouco detinham poder político, dedicando-se a prosaicas atividades de agricultura e pecuária básica. Mas eram pessoas, ao que consta, muito religiosas, em especial meu bisavô, que construiu a igrejinha do lugar e a consagrou à santa em questão.

Por isso, a principal atividade religiosa e festiva para os habitantes do povoado, tirando o Natal e o São João (este último por motivos óbvios), era a festa da santa, em louvor da qual se fazia uma pequena procissão em volta do vilarejo, uma novena e uma quermesse. Lógico que meus parentes participavam ativamente dos festejos, que eram também fonte de muita diversão.

Eu fui duas vezes à tal festinha. Da primeira vez, em 1988 (acho), tenho uma lembrança muito vaga. De certeza estava chovendo horrores, e eu aproveitei para sujar minhas lindas botinhas no barro encharcado. Havia muita música e agitação. Meus primos (e que não eram Freire, eram do lado Santos e que não está em meu sobrenome), companheiros de aventura na época, também estavam lá. E segundo minhas tias-avó, mães dos mesmos, parece que na ocasião o que não faltou foi menino pulando no barro ao som de uma bandinha de pífanos.

A segunda vez foi neste final de semana. Serviu para que eu sanasse um pouco da minha nostalgia recente e também para encontrar muitos deste lado da família (Hoje eles estão espalhados por Caruaru, Garanhuns, Recife, Paulo Afonso, Brasília...). E também para que eu visse algo que está cada vez mais morrendo, infelizmente: manifestações sinceras de fé e de uma tradição positiva em rincões escondidos do Nordeste.

A modernização está chegando por aqui, é verdade. Traz benefícios como a luz elétrica (na época do último governo Arraes, quase todos os domicílios rurais do Estado foram ligados à rede elétrica), a água em caráter quase que permanente, a (tímida) melhoria nas escolas... mas também fez com que muita gente se desinteressasse das antigas atividades aglutinadoras daqueles núcleos sociais e buscasse consolo... na garrafa de rum e de cachaça. Sofrem as quermesses, os pastoris, as cavalhadas, as cantorias.

Mas o que eu vi lá ainda tinha muito desse aspecto original e bonito do Nordeste, com as suas casinhas caiadas e de janelas e portas de cores fortes, os terreiros varridos, as bodegas que vendem de tudo e um pouco mais, as comidas artesanais... e principalmente aquela coisa legal e simples, sem pompas nem falsidade, que foi a manifestação religiosa daquelas pessoas. Ri demais com meus parentes que contavam histórias dos "bons tempos", e também com o leilão das doações cujo dinheiro serviria para ajudar a reformar a igrejinha.

Eu brinquei com dawn quando contei a ela essa história, dizendo que daria um documentário premiado dentro daqueles clichês típicos do cinema nacional sobre o Nordeste. Mas agora, pensando bem, se tal filme servisse para preservar as tradições culturais positivas de cada comunidade rural desse país (independente de crença religiosa), acho que valeria a pena. De fato, valeria.

6 de dezembro de 2007

Nada De Novo No Front

Aconteceu o que muita gente esperava, e até mesmo quem não esperava mas não deixava a esperança morrer: relatório de diversos serviços de inteligência dos EUA mostra que o Irã, de fato, interrompeu seu progama de armas nucleares em 2003. Os falcões americanos e o governo israelense, no entanto, insistem em dizer que o programa pode ser reiniciado a qualquer momento baseando-se na aquisição, por parte do Irã, de tecnologias consideradas chave para a construção de uma arma nuclear.

Ao que parece, sim, os iranianos têm plenas condições de construir uma arma nuclear, mas o problema é que isso leva tempo. Apesar do grande número de centrífugas para enriquecimento de urânio em operação por aquelas bandas, o mineral no teor necessário para uma arma nuclear (95% no mínimo) demora para ser produzido. Na escala atual, eles só construíriam a primeira ogiva, e sem garantias concretas de que ela irá funcionar, lá pelos idos de 2010, 2011.

Até lá, o mandato do atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad já terá terminado, e existe uma boa chance de que o mesmo venha a ser substituído por um moderado. Nem os membros do Conselho da Revolução Islâmica o estão aguentando mais: é muito radical (!) para o atual momento das relações internacionais do país. Ainda mais considerando que a maior preocupação dos aiatolás é, muito provavelmente, a consolidação e institucionalização da Revolução, bem como a condução do processo de modernização das estruturas do Estado iraniano - claro, dentro do escopo religioso dos dirigentes deste mesmo Estado.

Além do mais, o grosso dos gastos militares do governo iraniano, atualmente, estão sendo concentrados em coisas mais prosaicas e que possam ser de alguma utilidade no caso de alguma agressão externa. Estamos falando de tanques, aviões e submarinos anões, e também no fortalecimento da Guarda Revolucionária através do aumento da conscrição e do treinamento para pessoas comuns manterem uma atividade de insurgência caso ocorra o colapso do Estado nessas condições extremas. Uma bomba atômica serviria, na verdade, para terminar a guerra mais rápido - com um holocausto nuclear na Pérsia provocado por EUA, Israel e França.

Os aiatolás são radicais, mas com certeza não são doidos. O mesmo não se pode dizer dos estrategistas de defesa nacional dos EUA e de Israel...

4 de dezembro de 2007

Na Faixa

Fiz o meu cadastro no Gravatar, aquele site que gera um avatar automático e reconhecido globalmente por todos que tenham o link para sua imagenzinha nas caixas de comentário dos blogs.

Só que o meu só tem o avatar do Blogger, nada de Gravatar.

Algum conhecido meu e leitor deste blog sabe como se coloca o serviço aqui, e topa fazer pra mim "na faixa"? Hein? Hein?

3 de dezembro de 2007

Lições, Todos Os Dias

Chávez perdeu o referendo no qual havia proposto, entre outras coisas, a possibilidade de o presidente venezuelano ser reeleito para quantos mandatos quisesse. Há diversos indícios de que os partidários chavistas mais moderados, e ligados ao grupo político do seu ex-ministro da defesa, podem ter votado contra a proposta. Chávez, para surpresa de seus opositores na direita venezuelana, concedeu a derrota.

Sobre isso:

- É provável que o grupo chavista moderado, mas que ao mesmo tempo dá mostras de querer um movimento socialista venezuelano descolado da imagem de Chávez, tenha feito isso justamente para reforçar sua posição, com o intuito também de não queimar de vez sua imagem para com a opinião pública internacional que por muito menos já estava afirmando a existência de campos de concentração nos llanos;

- Como dito anteriormente, Chávez, ao reconhecer a derrota, calou a boca de muita gente, e deu mostras de maturidade, ao perceber claramente que deu um passo maior que as pernas. O problema é que, verdade seja dita, Chávez tem as idéias certas mas expressa de maneira errada. Pessoalmente, acho que ele ficou desbocado assim principalmente depois do golpe de 2002. Tivesse ficado quieta no canto dela e deixado o jogo democrático continuar a tomar o seu rumo, e teriam evitado aquele papelão ridículo.

30 de novembro de 2007

Tão Longe, Tão Perto

Nesta semana, um motim nas Filipinas liderado por soldados que enfrentavam julgamento por outro motim anteriormente ocorrido no início da década foi debelado por tropas do governo, que invadiram o hotel onde os amotinados estavam de uma maneira extremamente sutil: jogaram um blindado dentro do hall. Eles foram presos, juntamente com alguns jornalistas que cobriam o evento, e vão enfrentar outro processo militar.

Alguém aqui conhece a história das Filipinas desde a sua independência "formal" em 1898 e a "de facto" em 1946?

Como se sabe, as Filipinas, junto com Cuba e Porto Rico, foram alguns dos últimos bastiões do imperialismo espanhol fora do Marrocos, Saara Ocidental e da Guiné Equatorial. Foi aí que se tornaram o primeiro bastião do imperialismo americano, servindo como domínios de fato ainda que os ianques não gostassem muito de admitir que estavam fazendo o mesmo jogo dos europeus que fingiam ter ojeriza.

A questão é que os filipinos, desde alguns anos antes da guerra Hispano-Americana, já travavam uma luta de independência sangrenta, liderada pelo general Emilio Aguinaldo, uma espécie de Simon Bolívar do Sudeste Asiático. Só que a revolta, que se prolongou pelos primeiros anos de domínio americano, foi sufocada. As coisas ficaram relativamente na mesma até a Segunda Guerra e a invasão japonesa, que fez a parca administração norte-americana acabar de vez tendo em vista o esforço de guerra em outras partes do Pacífico. Sob muitos aspectos, os filipinos lutaram sozinhos e isso reacendeu o nacionalismo deles, que finalmente ganharam a independência em 1946.

Ganhar a independência, na verdade, é apenas uma maneira simpática de falar sobre os fatos. Os EUA deram apoio para sufocar rebeliões comunistas e islâmicas, mantendo no poder um calhorda como Ferdinand Marcos (sem esquecer de sua "adorável" Imelda, a dos trocentos pares de sapato). Em troca, Marcos deixou os EUA usarem o país como base de contenção do comunismo na região do Extremo Oriente. Isso não matou a guerrilha, que continuou a combater no meio das florestas e montanhas, nem a oposição, que ganhou novo alento com a liderança do líder exilado Benigno Aquino.

Num momento em que as pressões populares por redemocratização aumentaram, Marcos permitiu que Aquino voltasse ao país, embora ele fosse morto por um atirador praticamente na escada do avião. A esposa de Aquino, Corazón, retomou a luta pelo fim da ditadura e eventualmente conseguiu, vencendo as primeiras eleições e depois passando a faixa presidencial para Fidel Ramos, seguido depois pela atual presidente Gloria Arroyo.

Depois de ler essa história, eu fiquei impressionado em como eles poderiam perfeitamente ser uma república das bananas típica da América Central. Certo que falam o filipino, que pouco tem a ver com o espanhol, mas a sucessão de golpes, contra-golpes, guerrilhas rurais e intervenção americana, até mesmo um proto-caudilho na história...

29 de novembro de 2007

Top 5 Anime

Aquela italiana parece que está numa creativity spree, dado a produção de posts interessantes nesta semana. Ela fez um post recente sobre os melhores animes de sua época, filmes e séries. E comprovou o que eu pensava: italianos e franceses tinham acesso a mais animes legais durante a década de 80 que nós. Eu vou fazer uma listinha, só que como eu não acompanhei muitos animes durante minha vida, eu vou ficar em uma categoria só, e coloco mais um que eu adoraria ver. Aí vai.

5. Lupin Sansei: Um dos primeiros animes lançados, foi revolucionário para a época por abordar abertamente temas como sexualidade e violência sob uma perspectiva glamourosa. Reinaldo Azevedo ia cair pra trás se visse. O fato é que conta a história de um ladrão internacional, membro de uma família tradicional de ladrões com origem na França, sendo ele o terceiro da linhagem (por isso o Sansei = terceira geração). Além do mais era divertidíssimo, contando as tentativas do mesmo de comer uma peituda chamada Fujiko e terminando pelado e "na mão", mostrando as pernas magrelas e cabeludas.

4. Bleach: Um dos poucos animes modernos que conseguiu chamar a minha atenção, devido à sua visão espiritualista que se aproxima da minha própria cosmovisão. Trata da história de Ichigo Kurosaki, um médium consciente que de repente encontra uma shinigami (espécie de guia de almas) encarregada de combater espíritos malévolos, chamados de hollows devido aos vazios em suas vidas post-mortem. Ao derrotar um hollow, um shinigami efetua o konsou nas almas, limpando-as dos crimes e enviando para um lugar melhor... isso se o cara não for muito ruim, senão pega a Highway to Hell... As sequências de artes marciais são ótimas, eletrizantes.

3. Neon Genesis Evangelion: De longe, um dos animes mais profundos que eu já assisti. Da primeira vez que eu vi a série completa (inclusive aquele final extremamente controverso) eu fiquei com as questões apresentadas martelando minha cabeça um bom tempo. Para quem não conhece, é a história de um grupo de adolescentes num futuro semi-pós-apocalíptico em que precisam combater estranhos extra-terrestres que ameaçam a existência humana na Terra. Pior: o Apocalipse referido nas sagradas escrituras referia-se aos próprios...

2. Macross: Eu adoro o traço dos animes dos anos 70 e 80, tanto dos personagens quanto das estruturas. E nesse caso aqui, ambos são belíssimos, especialmente o primeiro filme de Macross com aqueles caças VF-1 com Jolly Rogers nos lemes... enfim, sem desviar-se do assunto, trata igualmente de um embate envolvendo humanidade e aliens, sendo que esses aliens são humanóides com 15 metros de altura, o que força o desenvolvimento de novos caças-robô humanóides para enfrentar essa ameaça.

1. Saint Seiya: E precisa dizer mais? Saint Seiya é hors-concours pra muita gente em todo o Brasil, marcando a mente de um monte de pré-adolescentes, principalmente em 94, 95 e 96. O desenho de Masami Kurumada é simplesmente lindo, e a temática até hoje empolga. Tem uma colega minha que falou pra todo mundo na nossa sala da faculdade que achava Shiryu de Dragão a coisa mais linda do mundo, com aquele longo cabelão... Eu preferia ver os socos e pontapés, bem como a superação constante de limites.

O que eu queria ver: Não é bem ver, é ler mesmo. A obra prima de Osamu Tezuka, precursor de quase todos os mangás e animes hoje existentes. Phoenix foi publicada dos anos 60 até os últimos dias de Tezuka-sama, e tratava de um dos mais contundentes temas já trabalhados em HQ: a busca pelo poder e pela imortalidade, personificados na figura da mítica ave que ressurge das cinzas quando queimada até a morte. O panorama da humanidade é traçado em toda a obra, 12 livros no total, desde os seus primórdios civilizatórios até o seu derradeiro momento no Universo. Tudo isto descrito de uma maneira a levar lágrimas aos olhos.

28 de novembro de 2007

Bunda de Índio

Discussão na comunidade "Coisas da Diplomacia", no orkut, sobre o que ocorreria com Pernambuco caso o domínio holandês tivesse continuado. Não obstante Suriname e Indonésia já terem oferecidos ótimos exemplos, Rafael Galvão, aquele baiano, deu uma ótima dica do que aconteceria: muito provavelmente Salvador, que já foi ocupada pelos neerlandeses, se chamaria Johannesburg e ele teria que passar por um monte de preconceitos para ter intercurso sexual com alguma moça "de cor" e da bunda durinha. Há gente que teima em não acreditar, mas, num mundo onde tem gente que dá crédito ao Mídia Sem Máscara, tudo é possível.

Enfim, mas no meio da discussão tem um sujeito que aparece emulando uma escrita que se pretende ser a de um brasileiro que mora há muitos anos na Alemanha e teria supostamente esquecido muito da língua pátria, e fala, com uma propriedade doutoral, que as "pontes de Olinda foram construídas por Maurício de Nassau" e que "influências holandesas são percebidas na arquitetura da região de Serra Talhada".

* * *

Muito prazer. Meu nome agora é Viktor Veerhoeven, e descobri que minha ascendência européia é na verdade de um simpático vilarejozinho na região de Gelre. Falando nisso, vou embarcar semana que vem para assumir o polder da família, onde se cria vacas e se plantam tulipas. Pelo menos antes de o mar invadir tudo com o aquecimento global...

* * *

Vamos aos fatos:

- Relevando o erro de as pontes históricas de Pernambuco se localizarem na verdade no Recife, a ponte (isso, foi somente uma) que Maurício de Nassau construiu na verdade era de madeira e jamais poderia durar até os tempos modernos. A ponte mais antiga do Recife é a Princesa Isabel, aquela que vai dar no início da Rua da Concórdia, e foi construída no século XIX;

- Nem em sonho os holandeses chegaram tão para o interior ao ponto de sua influência se fazer sentir em Serra Talhada. Fosse assim, Arcoverde seria a Eindhoven do semi-árido. O máximo que eles chegaram, acho, foram aos pés da serra das Russas, e ainda assim sem povoamentos importantes. A influência européia que se faz sentir na maior parte do sertão nordestino é na verdade inglesa, fruto do intercâmbio cultural presente durante a implantação da ferrovia na região, em fins de período vitoriano. Ou nem isso. Mesmo as cercas de pedra de Triunfo e Venturosa, e que podem ser encontradas ainda em outros lugares (na fazenda de meu falecido avô mesmo tinha) eram provavelmente influência portuguesa, certamente mais seguro que enveredar por uma hipótese remota de ocupação holandesa no sertão.

27 de novembro de 2007

Conquista?

Esta semana, relatório do PNUD aponta que o Brasil alcançou pela primeira vez a faixa de alto desenvolvimento humano do IDH, o índice de desenvolvimento humano, que entre outras coisas mede a taxa de analfabetismo, a expectativa de vida e a renda per capita de uma população. Mas, ironia do destino, mais países atingiram a mesma faixa e o Brasil acabou caindo da 69ª para a 70ª colocação, sendo superado por países como Arábia Saudita e Albânia.

Apesar do aparente fracasso, corroborado pelos ainda péssimos indicadores do índice de Gini (superando a marca dos 51 pontos, o que é vergonhoso), é a primeira vez que tal fato ocorre e os analistas do PNUD são categóricos em afirmar que a subida brasileira se deve ao ótimo cenário externo, ao crescimento da economia, à melhoria geral da qualidade de vida da população, e principalmente a programas de redistribuição de renda, como o Bolsa Família e o Fome Zero.

É verdade que o governo Lula está longe de ser um governo perfeito e que a eles cabem pesadas críticas, mas por questões que remetem à própria história política do país e à caracterização das ideologias partidárias, bem como seus grupos de apoio, a oposição e em especial o PSDB não estão aproveitando estes aspectos e continuam na boa e velha cantilena de que podem fazer melhor sem oferecer alternativas concretas. E o que eu estou fazendo aqui é uma análise fria.

Não é preciso ser nenhum especialista em ciência política para perceber que a grande massa eleitoral está pouco se lixando para o fato de o PT ter copiado as políticas tucanas que deram certo. O problema é que, considerando que as mesmas foram "copiadas", elas estão dando certo agora, e não antes. Se alguém chega e propõe acabar com tais benefícios em nome do bem-estar geral da economia brasileira (que no presente momento, e não antes, vai muito bem, obrigado), é lógico que vai ser rechaçado lindamente nas urnas.

E com tanto tempo de poder, ainda não perceberam isso. Francamente.

26 de novembro de 2007

E Quando A Gente Procura...

... acha.

Eu era louco para saber quem era uma cafuçuzinha que aparecia dançando em uma das inúmeras vinhetas da MTV. Era o clássico estereótipo da estudante de arquitetura do CAC, uma personagem que sempre me agradou bastante, e ainda continua exercendo seu fascínio sobre esta pessoa. Imagino que deve haver gente que tem fantasias eróticas com aquelas réguas "T", mas, bom, ainda bem que eu sou um menino do interior.

Enfim, e mudando de assunto propositalmente, o fato é que graças a um certo post de uma certa italiana, eu consegui descobri quem era a dita cuja. Trata-se de Cat Power, ou o nome de palco de Charlyn Marshall, classificada como uma das mulheres mais góztosas da história do rock. E com razão, embora ela certamente esteja fora do estilo de uma Debbie Harry (Blondie), Lita Ford (The Runaways) no esplendor do sucesso, Nina Persson (The Cardigans) e talvez aquela que eu ache a mais recente vedete, Reeta-Leena Korhola (Husky Rescue). Enfim, chacun a son goût.

É difícil classificar o estilo dela, pelo que eu ouvi, mas certamente é experimental. E indie também, embora dentro desse enorme guarda-chuva caiba desde Arcade Fire e Weezer, representantes legítimos do nerd rock, até o blasé, ao menos na minha opinião, de coisas como Placebo. Aliás, poucas coisas pra mim são mais representativos de um indie autêntico que uma atitude blasé. Cat Power é assim.

E talvez seja por isso que ela cative tanto. A voz dela é suave, envolvente, mas ela também olha pra você (e isso é potencializado quando ela está com aquele cabelinho na cara, aquela dancinha tosca, a calça jeans e a camisa preta de botão largadona) com aquela cara de "o quê, você nunca foi a Londres"? Humilha que humilha. Aliás, isso daria mote para um possível encontro amoroso entre a dita cuja e um matuto cool, como é o Xico Sá. Aposto que num instante ele tirava o queijo dela. Em duas horas de conversa, talvez ela estivesse até lambendo os dedos da buchada acompanhada de um vinho syrah de ótima safra. Mais um pouco do vinho, e eles estariam dentro em pouco fazendo uma análise junguiana do inconsciente coletivo nos tempos do Padim Ciço.

Mais tarde, talvez, ainda saindo dos lençóis desarrumados, ririam e muito de imaginar Habermas vestido de gibão e chapéu de vaqueiro.

E por aí vai.

23 de novembro de 2007

E Será Que Vai?

Matéria do Blig do Gomes dá conta de que uma nova categoria está para ser lançada no segundo semestre de 2008: trata-se da Superleague, que correrá com um chassis Panoz e um motor V12 4.2 de mais de 750 cavalos de potência (eu nunca consegui converter direito braking horse power). O diferencial do tal campeonato é a divisão por times de futebol, e não por equipes. O clube brasileiro que patrocinará um dos carros é justamente o Framengo.

Se vai deslanchar? Não sei. O Gomes aposta que não. Eu não posso dizer, já que está ainda relativamente longe. Mas é muito estranho que, das 6 etapas previstas, uma não esteja confirmada, e que não existe ainda um único piloto previsto para pilotar os bólidos. Pra completar, o site oficial é na verdade um blog hospedado na Wordpress. Sei não...

22 de novembro de 2007

Wishful Thinking (final)

"O sucesso do time no campeonato estadual certamente fez com que muitos dirigentes antigos do Santa Cruz - e em especial dos outros grandes da capital - mordessem os chapéus de tanta raiva. Os primeiros, pelo óbvio sucesso de um clube comandado pelos próprios torcedores, numa enorme democracia esportiva. Os últimos, por terem perdido para um clube recém caído para a tenebrosa terceira divisão do campeonato nacional.

Mas a vitória deu o estímulo necessário aos descrentes para voltar a contribuir com o clube. Na primeira partida do grupo regional da Série C, contra um obscuro time do interior do Rio Grande do Norte, o Arruda lotou com 60 mil pessoas, e ainda assim porque esse foi o limite imposto por razões de segurança. Se 200 mil ingressos fossem postos à venda, 200 mil ingressos seriam vendidos. Não se pode dizer exatamente que a campanha do time foi perfeita, mas conseguiram a classificação até o octogonal final.

A CBF também estava mordida de raiva com o sucesso do clube, e logo logo as malas pretas começaram a afluir para os clubes paulistas que estavam na fase final da terceirona, dispostos a impedir que o time tricolor de corpo e alma conseguisse subir e desse o exemplo ao resto do futebol brasileiro. E por um momento parecia que a trupe dos dirigentes da toda-poderosa máfia da bola iria ter sucesso: em três jogos, dois empates e uma derrota.

Não por isso, o líder do movimento dos torcedores tricolores, na preleção dada ao time em uma certa partida em casa, lembrou os jogadores de tudo pelo qual haviam passado, e o que realmente estava em jogo: eles haviam lutado para provar que, acima de tudo, o futebol é um jogo que destina-se a levar alegria ao rosto do torcedor de determinada agremiação esportiva. Nunca poderia servir apenas para satisfazer egos, gerar lucros desmedidos com venda de craques ou reduto de poder político. Então o que estava em jogo não era apenas a esperança do torcedor tricolor, mas de todos os torcedores que estavam insatisfeitos com seus clubes. Esta era a chance que eles tinham de mudar de vez a história do futebol no país, e quiçá em todo o mundo.

O resultado das partidas restantes: apenas dois empates. 4 gols sofridos. Um primeiro lugar conquistado com uma rodada de antecedência. O Santa Cruz e seus torcedores haviam passado em sua prova de fogo."

Reage, Tricolor!

20 de novembro de 2007

Wishful Thinking (2)

"Recife, duas da tarde. Em algum dia do final de janeiro de 2008. A uma semana do início do campeonato pernambucano.

O líder do movimento popular que tomara de assalto o Santa Cruz Futebol Clube estava à beira do gramado do Estádio do Arruda, em Recife. Em volta, tinha pelo menos uma centena de marmanjos participando de uma peneira. Nas arquibancadas, alguns milhares de pessoas assistindo a peneira. Em determinado momento, ele começou a lembrar o que acontecera até então.

Depois da tomada do Arruda, parecia que as coisas não iriam se sustentar. A diretoria antiga começou a mover um processo atrás do outro contra os líderes do movimento 'Viva Santa Cruz', os patrocinadores oficiais sumiram, até o fornecedor de material esportivo debandou. Era uma sorte que a CBF e a FPF continuaram a reconhecer o time e a garantir sua vaga nas divisões e campeonatos em que estava. Pressão de um certo senador magrelo.

Era hora de apelar para o mesmo movimento que se apossara do clube. De pronto, um monte de gente apareceu para trabalhar na reforma do estádio, inclusive engenheiros. Pequenos negócios se ofereceram a custear algumas despesas do clube. Mas isso não era suficiente, até porque o clube precisaria viajar e muito nos próximos dias. Era preciso economizar nos jogadores.

Foi aí que alguém surgiu com a idéia para apelar para os torcedores do tricolor. E ficara decidido que, em toda pelada de society, barrinha de meio de rua, e campeonato de sítio com regras 'pescoço pra baixo é canela', se procuraria algum tricolor bom de bola e que estivesse disposto a recuperar seu time de coração, estaria convocado a dar sua contribuição.

Muitos afluíram para o Arruda, mas só uns poucos poderiam se aproveitar. O salário também fez muita gente decidir: ajuda de custo para cobrir as despesas mais básicas, e só. A folha de pagamento estava do tamanho da de um time do interior. Sorte que o patrocínio de muitas pessoas surgiu, pelo simples prazer de contribuir para uma verdadeira democracia futebolística, da forma como estava.

Voltando à peneira final, de 100 jogadores, a aclamação popular servia de termômetro para saber se determinado jogador agradava ou não. Estudantes e profissionais de educação física olhavam a habilidade dos futuros craques, e médicos avaliavam na hora sua condição fisiológica. Ao final do dia, muito aplaudidos, eram formados um time de titulares, um time de reservas e um time sub-23. Cada um recebeu um jogo de padrões de casa e fora - costurados por muito orgulho por um grupo de senhoras do bairro. Não havia nem uniforme de treino e os jogadores teriam de manter as roupas. Lavar e passar, para aprender a ter amor pelo clube.

Dando um pequeno salto no tempo, a tática rendeu resultados. A raiva com que os jogadores jogaram contra o Sport deixou o time com 2 jogadores suspensos por carrinhos violentos, um sem-número de cartões amarelos, mas garantiu uma vitória suada por 1 x 0 na Ilha do Retiro. A mesma coisa aconteceu na final do estadual, contra o Náutico. Na Copa do Brasil, chegaram até a terceira rodada, sendo eliminados pela Portuguesa."

(continua)

19 de novembro de 2007

Wishful Thinking

Hoje eu não vou falar sobre os perigos que correm o mundo das relações internacionais. Tampouco vou falar sobre meus temores sobre a prova do IRBr ano que vem. Muito menos vou idolatrar um carro que me deixa com o queixo caído.

Hoje eu vou demonstrar minha raiva com algo que aconteceu no sábado à tarde. E para isso vou me servir de uma historinha...

"Recife, três da manhã. Um dia depois da última rodada do Campeonato Brasileiro da Série B.

Um alto membro da cúpula da diretoria do Santa Cruz Futebol Clube dorme tranquilo em casa, mas sabia dos rumores que desde a penúltima rodada corriam nos bastidores do time. Coisas muito desencontradas sobre a insatisfação com o time. No último jogo, já com o time rebaixado para a série C, os torcedores fizeram sinais estranhos e cantaram músicas mais estranhas ainda, sempre de costas para o campo. Mas ficou por isso mesmo.

De repente, toca o telefone. Era um dos seguranças do clube:
- Doutor, pelo amor de Deus, faz alguma coisa! Faz alguma coisa dout-aaaaaaaaaaaarrrrrrrrgggggghhhhhhhhhh!!! *clic*

O que acabara de ouvir era algo assustador. Nem tanto pelo horrendo grito que o guarda soltou, mas pelo barulho que tinha de fundo. Era um barulho de multidão em fúria, e, mais assustador ainda, uma multidão em fúria organizada, gritando em coro palavras de ordem. A frase gritada com mais raiva era o refrão de uma música antiga: 'Pega, mata e come!'.

Resolveu ligar a televisão, e o plantão da Globo mostrava, da câmera de um helicóptero, uma avenida Beberibe completamente tomada. A Beira-Canal, sua perpendicular, não ficava muito atrás. Ela pulsava com a gente que estava lá embaixo. Em preto, branco e vermelho.

Podia se ver que alguns torcedores já tinham quebrado alguns portões e tomaram o Estádio do Arruda de assalto. Câmeras ainda não estavam disponíveis no solo, mas parece que as reivindicações dos torcedores eram que o Santa Cruz passasse a ser patrimônio dos torcedores, com direção exercida por um colégio representante do torcedor comum. Que o Santa realmente se tornasse um time do povo.

Obviamente ninguém conseguiu dormir mais naquela casa, e nem na casa dos cartolas do clube. A polícia bem que foi chamada para tentar colocar ordem, mas não teve muito sucesso. Alguns policiais mesmo se juntaram ao movimento popular, inclusive oficiais. Parece que a ordem atual no time, como tal, deixara de existir, e o que podia ser feito era tentar tirar alguma vantagem.

Ledo engano. Assim que começou o 'Bom Dia Pernambuco' e uma entrevista com o líder do movimento - um negão de 1,90m de altura - foi arranjada, o aviso foi dado: qualquer antigo sócio do clube (já que os títulos de sociedade foram todos revogados) com ligações diretas com a direção do Santa, de qualquer tempo, iria por conta própria; ele não iria se responsabilizar pela reação da turba.

A partir daquele momento, o Santa Cruz virava de fato patrimônio de todos os torcedores tricolores. A verdade era essa. O resto que se resolvesse na justiça."

(continua)

16 de novembro de 2007

O Mundo E O Nerd

Pra terminar minha série de sites interessantes da semana, publico uma sugestão de um amigo meu - que, como vocês irão perceber, é estudante de algum curso de ciências exatas. Trata-se do xkcd, uma visão do mundo, em tirinhas, de acordo com o típico nerd de trocentas canetas no bolso da camisa, livros de cálculo debaixo do braço e capacidade para dizer uma frase em diversas linguagens - de computador.

Ou seja, nerd roots. Sem essa coisa "cúl" que chegou com o advento do Weezer, do Arcade Fire, de Matrix e de Kill Bill. Sem essa coisa de nerd inserido na cultura de massa com conjunto esportivo Adidas. Sem essa coisa de nerd saindo pra balada. Sem essa coisa de nerd com namorada (sacrilégio dos sacrilégios: nerd com namorada). Esses, meus caros, abriram espaço para o movimento e para que você e eu pudéssemos sair inflando o peito e "saying it out loud, we're nerds and proud". Devemos a eles muito.

Mas voltando ao site: o autor das tiras explica de uma maneira muito bem humorada a visão de determinados fatos e impressões sobre o mundo de acordo com uma visão nerdística. Lá estão tudo, desde informática e matemática (óbvio) até coisas como música - no site tem um belíssimo elogio a Led Zeppelin e "Stairway to Heaven". Atenção especial para o post sobre a vida amorosa do dito cujo.

Mais recentemente, eles estão publicando uma série de tiras sobre o início do "copyleft" em tudo o que puder ser convertido em bits e bytes, o que inclui também a "blogosfera". O cara é realmente a favor do software livre, de tudo o que tenha distribuição livre afinal de contas, e por isso ganhou de cara a minha simpatia. Aliás, o próprio blog é feito de acordo com Creative Commons, ou seja, pode copiar, desde que se credite.

14 de novembro de 2007

Voyeurismo, Ma Non Troppo

Eu tinha outros planos para o post de hoje, mas a dawn veio com uma sugestão de site. Então, ela tem prioridade, e dane-se os outros que vão ter de se encaixar.

Brincadeira. O site é realmente interessante.

Trata-se do PostSecret. Começou como uma instalação de um artista plástico nos EUA (onde mais?) que consistia em deixar espalhados pela cidade diversos recadinhos não assinados contendo segredos pessoais. A princípio, quando vi a descrição do site, pensei uma das duas alternativas: ou o sujeito é muito corajoso, ou é completamente pirado. Mas dei uma chance. E me surpreendi com algumas coisas...

O site acabou virando uma espécie de comunidade-movimento. O artista plástico responsável pelo projeto solicitou a quem visse o blog da comunidade que enviasse para o seu endereço um segredo colocado em um cartão-postal feito em casa. Tem gente contando os mais variados segredos. Desde os mais banais e não-tão-segredo assim, até coisas mais pesadas como o cara que descobriu que o pai é bi.

O endereço para os interessados está nos primeiros postais da página. De preferência, mande em inglês, para que não aconteça o mesmo que o sujeito que mandou um segredo em mandarim...

13 de novembro de 2007

Dobrados

Continuando com a série de sites interessantes, eu indico este, que achei, pessoalmente, hilário. O Bent Objects é uma vitrine virtual de obras de arte feitas por um americano que certamente tem muita criatividade - e também nada para fazer. Ok, obras de arte expostas na internet não são nenhuma novidade. Então, o que chama a atenção aqui?

O sujeito em questão, que por sinal se chama Terry, pega objetos de uso diário e transforma em gente. Como? Simplesmente dando aos objetos braços e pernas de arame dobrado. Eu lembro que, quando era pequeno, era um costume entre meus primos fazer algo parecido, embora não tão elaborado. Por exemplo, fazer bois e porquinhos de maxixe espetando nos legumes 4 palitos de fósforo.

Terry, o artista plástico desocupado, consegue não só dar uma personalidade aos objetos, como também dar uma personalidade condizente com o "eu interior" de cada um. Em um dos posts mais recentes, ele pega um tubo de remédios daqueles de farmácia de manipulação e o coloca para consertar um cérebro, de chave de boca na mão e tudo. Em outra instalação, ele coloca pimentões, cenouras e tomates chorando no melhor estilo "mãe depois de chacina" em volta de um prato de salada fresca. Salad is murder, é a mensagem.

Ele costuma atualizar cerca de uma vez por semana, pelo que eu percebi. Então, tenham paciência e deixem o sujeito trabalhar (ou melhor, não exatamente trabalhar...).

12 de novembro de 2007

Isso Dá Filme

Nesse fim de semana foi impressionante a quantidade de sites interessantes que chegaram até meu conhecimento. Acho que vou terminar dedicando toda esta semana a falar sobre eles.

Bom, vamos começar pelo meu preferido, em grande parte pela história envolvida. Eu achei simplesmente hilário, pois poderia acontecer em qualquer roteiro clichê de comédia romântica (e o autor do site, obviamente, percebeu isso na hora).

Era uma vez um americano médio de 21 anos, que levava uma vidinha média com um empreguinho médio de ilustrador e andava medianamente pela nada média cidade de Nova York - só pra quebrar a sequência. Um belo dia, quando este sujeito tomava o metrô quase que onipresente da "maçã grande", ele percebe uma determinada menina com a qual ele começa a conversar.

Bonita, ela, certamente o nosso rapaz pensou. E também tem uma conversa interessante. Simpatizou logo de cara. Ao final da conversa, ele já estava apaixonado pela criatura, com os quatro pneus Goodyear Eagle NCT5 arriados pela mocinha. Só que - ó, tragédia - o demônio do embasbacamento inventou de infernizar a vida de nosso herói: ficou tão bobo que esqueceu-se de perguntar o nome da sua princesa-no-alto-da-torre.

Ele deve ter voltado pra casa totalmente desconsolado, por ter perdido uma chance em um milhão. Só que, ao invés de ficar se lamentando, o ilustrador em questão resolveu colocar seus dotes em favor de seu coração (provavelmente de outras coisas também, mas vamos nos ater apenas a esse detalhe, sim?): ligou o PC, iniciou o Corel Painter, riscou e rabiscou na sua mesa digitalizadora, consultou os livros de HTML e Dreamweaver, desenrolou um domínio .com e pimba!, saiu aquele que seria o meio pelo qual reencontraria sua amada. Ou pelo menos era o que ele acreditava.

Muito provavelmente esse sujeito deve ter uma lista de contatos imensa, pois ele realmente tinha fé em encontrar sua amada via internet, ainda mais com um site a princípio sem links e que representava um beco sem saída em si. Mas foi através do boca a boca, e da teoria de que cada pessoa está a no máximo 5 contatos de distância de outra, que ele, sim, meus caros leitores, chegou até à garota em questão! Uma amiga da anônima do metrô viu o blog por recomendação de outras pessoas e, bom, o resto é resto...

É interessante perceber que o dito cujo encontrou a moça em 4 de novembro, e nós, bem, estamos em 12 de novembro. Ou seja, foram certamente menos de 8 dias até chegar ao conhecimento da dita cuja. O que nos leva à conclusão de que ele é realmente um rapaz favorecido pelo destino ou que a quantidade de geeks de internet nos EUA é assustadoramente alta.

O desfecho da história? Abelhudo! Isso é algo que só diz respeito aos dois!*

*Mas, bom, num mundo tão carente de mágica em primeiros encontros, se eles se dessem bem não seria nada mal...

9 de novembro de 2007

E a Saga Continua

























Bope, "Tropa de Elite" da polícia carioca

E a fascistização da sociedade brasileira continua a todo o vapor. Depois do dramático episódio de ontem da novela global "Duas Caras", no qual supostos representantes do movimento estudantil quebram uma universidade particular cuja dona se coloca como "paladina da democracia", um coronel do Bope se sai com esta. No meio de um curso ministrado pela SWAT norte-americana para policiais de "tropas de elite" de todo o país, o tal coronel fala com orgulho de como não prestou socorro ao sequestrador do ônibus 174, travou luta corporal com o mesmo dentro de uma viatura policial e o asfixiou com ajuda de companheiros de Kampffgruppe.

Pra completar o espetáculo, ainda tem a pachorra de dizer que foi preso "de maneira covarde", "para dar justificativa à Rede Globo". Pobre coitado.

Acho que isso nos dá subsídios para afirmar quais serão os próximos passos daqui para o fim do governo Lula. Me dou o luxo de imaginar coisas como:

a) Nova "Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade";

b) "Camisas Negras" desfilando pela Av. Paulista e Av. Copacabana;

c) Quebra-quebra de negócios nordestinos em São Paulo e arredores;

d) Novos condomínios com exércitos particulares armados com fuzis e metralhadoras leves;

e) Urutu versão civil financiado em até 60 meses, sem entrada e com primeira parcela só depois do Carnaval.

Exagerado? Até pode ser. Mas o exagero é um recurso muito usado para falar sobre um problema atual...

8 de novembro de 2007

Mundo Surpreendente

E quando a gente pensa que já viu tudo, o mundo sempre dá um jeitinho de nos surpreender.

Matéria da FSP dá conta que certos milionários russos estão fugindo do stress e da rotina enfadonha da vida de rico pagando para viver como pobres. Por um dia, é claro. Mas o fato é que tem ricaço pagando até 10 mil doletas para viver como garçons, motoristas de taxi, cantores de rua, vagabundos e até mesmo prostitutas. Tudo com o maior sigilo e a maior segurança disponível para quem quiser a empreitada.

Há quem diga que a Rússia pós-soviética tenha virado um samba do crioulo doido. Não é pra menos: de repente se descobre que dá para voar em um MiG pagando uns milhares de dólares, que pelo preço de 3 Mercedes top de linha um terrorista adquire uma ogiva nuclear "da boa", que o primeiro presidente do seu país na era pós-"comunista" era um bebum sem rédeas e que o segundo é um neo-tsar autoritário...

Vai entender.

7 de novembro de 2007

Putz, Que Óbvio!

E eu, que vivia reclamando da falta que faz um site de notícias sem viés claro para nenhum lado, nem atentei para a coisa mais óbvia: por que não tentar os serviços de notícias oficiais, como a Agência Brasil?

Alguém pode dizer: ah, serviço de notícias do governo é o pior que tem. Mas não! Eles realmente fazem um jornalismo independente, e de boa qualidade. Tem até ouvidoria que se dispõe a apurar fatos para os leitores! Os salários deles, que eu saiba, são apenas razoáveis, nada absurdo, mas só o fato de não ter um editor sacana te buzinando no ouvido que sua matéria tem de ter em mente as vendas ou a posição oficial do grupo... Esperanças, muitas esperanças para o jornalismo da TV Brasil.

Não é por nada não, mas isso me fez ter muitas saudades da época em que eu trabalhava na Assessoria de Comunicação da UFPE, a querida Ascom...

5 de novembro de 2007

Luz No Fim do Túnel

Matéria recente da FSP, via BBC Brasil, dá conta que uma universidade sueca, o Instituto Karolinska, está muito próximo de desenvolver uma vacina contra a Aids bem sucedida. Testes feitos até agora com 40 voluntários mostraram uma taxa de imunização de 97%, o que qualifica a vacina a partir para a próxima fase, com 60 voluntários na Tanzânia. O processo consiste na aplicação de duas vacinas, sendo que a primeira foi desenvolvida em conjunto com uma agência governamental sueca e a segunda foi cedida pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.

Algumas coisas a serem percebidas.

Primeiro, o Instituto Karolinska é uma das melhores faculdades de medicina da Suécia, e sonho de consumo de uma amiga minha aspirante a médica (neste momento perdida em algum lugar da Lapônia sueca). Foi fundado em 1810 como um centro de pesquisas médicas para o exército sueco, e logo caiu nas graças de algum rei, que acabou herdando seu nome (Karolinska Institutet = algo como "Instituto Carlino", ou de Carlos).

E é pública, como todas as universidades suecas.

Cá entre nós, sempre que se reclama da universidade pública ou da morosidade da pesquisa médica, alguém surge logo com a solução mágica de privatizar as universidades ou colocar toda a pesquisa científica, inclusive de questões estratégicas, nas mãos da iniciativa privada. Uma solução mais interessante e já proposta pelo Hermenauta (com um pano de fundo já existente) consiste na implantação de um prêmio para motivar quem desenvolva determinado avanço científico, bem sucedido no caso da aviação e nos vôos espaciais civis. Mas retornando à velha pergunta: um desenvolvimento científico privado vai realmente ser aproveitado por toda a humanidade?

Voltando às ciências médicas, é sabido que as indústrias farmacêuticas hoje formam uma verdadeira máfia, uma verdadeira tríade chinesa no monopólio de remédios considerados importantíssimos para a manutenção da saúde mundial. No entanto, remédios avançados para doenças como o câncer e a Aids são vendidos com preços pela hora da morte. O caso da Aids pode ser considerado ainda mais dramático, uma vez que existem países africanos no qual mais de 50% da população ativa estão com o vírus, e a quebra da patente (chefiada pelo então ministro da saúde tucano, José Serra) dos remédios do coquetel anti-Aids foi providencial.

Pode-se argumentar que a participação do referido instituto americano foi motivada por este contar com os avanços das indústrias médicas de lá. O problema é que esse instituto é público, e, como muitas instituições públicas americanas (a exemplo da PBS e da NOAA) muitas vezes vai de encontro com governos neocons, a exemplo do atual. Sozinhos, os NHI (e o responsável pela segunda vacina, o de alergia e doenças infecciosas) são responsáveis por quase um terço do montante gasto em pesquisa médica nos EUA, sendo o restante composto pelas empresas.

Num mundo em que se alardeia aos quatro ventos a necessidade de reduzir a participação do Estado na vida dos cidadãos e entregar as prioridades de produção ao mercado, iniciativas como esta mostram a força que possui um governo preocupado com o bem-estar de seus cidadãos e a possibilidade real de eficiência (e mais que isso, vanguarda) de uma instituição pública, que para chegar a tal objetivo não necessita mais que boa administração dos recursos envolvidos. Nem sempre isso é alcançado no caso das empresas privadas, visto o caso de empresas como a Cisco, Enron, Encol, Aracruz Celulose...

2 de novembro de 2007

Ele Certamente Gostou

Aconteceu o que eu e um monte de gente esperava na F1: o empresário de Alonso anunciou a recisão do contrato do piloto na McLaren, e agora está livre para negociar outros contratos com outras equipes - de preferência bem longe de Lewis Hamilton.

Quanto a isso, algumas coisas precisam ser ditas:

1) Eu me surpreendi com a forma como o contrato foi terminado de uma maneira tão amistosa, ao menos no que diz respeito ao plano dos negócios. Eu esperava uma espécie de Gotterdammerung nos trailers da equipe de Ron Dennis, mas parece que resolveram agir como um casal que entende que a relação não está mais dando certo e assina os papéis sem muita conversa (hipótese corroborada por esta notícia aqui);

2) Apesar da aparente incerteza, eu apostaria todas as minhas fichas em como Alonso vai mesmo para a sua antiga casa, a Renault. Foi certamente o lugar onde ele foi mais feliz na F1, e existe uma vontade por parte dos dirigentes da equipe anglo-francesa (e quem disser que é só francesa apanha!). É só juntar a fome com a vontade de comer. Asfalto;

3) Ron Dennis sim vai continuar seu calvário com a McLaren-Mercedes, ao menos é o que tudo indica. E a inversa também é verdadeira. A Prodrive, empresa especialista em carros para o WRC, teve melada a sua oportunidade de entrar na F1 por Bernie Ecclestone, o Ricardo Teixeira do "circo". Ou seja, isso significa que a Mercedes vai continuar com aqueles ingleses chatos de Woking e a McLaren vai continuar com aqueles alemães pedantes de Stuttgart. Quid pro quo.

Agora é esperar pra ver como vai ser o quebra-pau nas pistas em 2008. Aliás, eu estou louco pra ver como vai ser esse GP noturno de Cingapura.

31 de outubro de 2007

Referente ao Post Abaixo

Conseguimos. Agora, vamos rezar para que daqui pra lá a polícia não toque fogo nas favelas das cidades-sede...

29 de outubro de 2007

Contagem Regressiva














Habemus panis et circensis

Eu deveria me sentir muito culpado por ficar feliz em saber que vamos receber uma Copa do Mundo de futebol?

26 de outubro de 2007

Os Novos Brinquedinhos da Defesa

Matéria recente postada no meu think tank conservador favorito, o Defesa@Net, dá conta do programa de rearmamento das forças armadas brasileiras. Não é nenhuma novidade já que o Exército aprovou a produção do seu novo blindado sobre rodas nas instalações da Iveco/Fiat, num controvertido processo de licitação. Agora, a FAB anuncia o processo de licitação para a compra de 12 helicópteros de ataque e 12 helicópteros de transporte pesado, e a Marinha diz que o seu programa nuclear estará concluído em 2014, com o bendito submarino nuclear entrando em atividade em 2020.

Não questiono a necessidade de se manterem forças armadas modernas e bem treinadas, mas me dá calafrios ver o governo dando armamentos novos em folha para oficiais de comando com a cabeça ainda nos tempos do Duque de Caxias e na doutrina de salvação nacional. Certo que eles têm muito a agradecer ao governo Lula - a FAB mesmo não comprava caças novos desde 89. Mas os ecos das lições na ESG ainda são muito mais fortes e possuem mais apelo no imaginário dos homens de farda que qualquer outra coisa. Está aí o escândalo do livro sobre a ditadura, que não me deixa mentir, bem como repetidas declarações sobre projeção de força em outros países da América do Sul.

O negócio é que o Brasil nem em sonho pode pensar em projeção de força, ou exercer hard power, como se diz no linguajar das Relações Internacionais. Uma política de defesa consistente com nossas forças deveria estar baseada em manter uma defesa efetiva de nosso território, bem como manter operações de manutenção da paz junto à ONU. Fala-se em defesa da soberania, quando a própria soberania de nossos vizinhos sulamericanos, bem como a de alguns africanos, está em jogo por questões ideológicas. Não vejo por que teríamos de manter um caríssimo submarino nuclear quando um submarino movido a hidrogênio poderia fazer o mesmo trabalho, com custos mais baixos, embora os comandantes da MB insistam em dizer o contrário.

No fundo, no fundo, isso é a maior vontade de ser potência por parte daqueles que possuem estrelas nos ombros, ainda que seja uma vontade não concretizada.

25 de outubro de 2007

C'est Vrai Cette Mansonge?

Tudo indica que sim, de fato é verdade essa mentira. Eu estava, agora à noite, correndo o risco de ser condenado pelo meu aparelho comunista assistindo à Globo (:P), quando vi uma cena da novela das oito no mínimo chocante, ainda mais se tratando do grande satã da família Marinho: um sujeito arrotando prenconceitos a torto e a direito contra um morador de favela que estava presente a um jantar de gala (sem perceber que a empregada que o servia também era negra), a filha do mesmo que trouxe o favelado pra bancar a descolada, o preconceito "não pergunte, não conte" do resto das pessoas, um certo nível de oportunismo político do deputado presente (soi-disant judeu) ao comprar a causa do favelado para si...

Não é de hoje que a Globo me surpreende, e me assusta com isso. Tá, a cobertura das eleições de 2006 dão a entender que a velha global continua firme em forte em sua posição liberal-conservadora, e principalmente hegemônica, em nosso país. Mas eu não posso pensar de todo mal de uma emissora que tem gente que produz séries como "Hoje É Dia de Maria" e "A Pedra do Reino" (apesar dos baixos índices de audiência desta última devido ao seu alto grau de experimentalismo). Nem como mantém Caco Barcellos, o mesmo que adoraria ver a violência na favela se transformando em revolução social estilo bolchevique em uma Caros Amigos, ou um Luís Carlos Azenha, que tem um dos blogs mais ácidos da blogosfera brasileira, e ao mesmo tempo um dos mais centrados.

Marcelo Tas, que aparentemente passou para o outro lado da força (ou então nunca saiu dele), fez uma entrevista por debaixo dos panos com um repórter da Globo, durante o comício das Diretas Já na Praça da Sé, em São Paulo, lá pelos idos de 84. Eu não lembro do nome do dito cujo, mas é relativamente conhecido. O fato é que Tas perguntou a ele se não era um paradoxo cobrir um evento ao qual a Globo se opunha fortemente quando ele, o repórter, era pró-Diretas. Ele soltou que ele e muitos colegas apoiavam as Diretas e sempre que possível faziam pressão para colocar o viés próprio em matérias feitas para a Globo, muito embora sofressem pressão e o quase-onipresente corte da navalha da edição. Parece que as coisas não são exatamente tão azuis lá dentro, o que eu já desconfiava. Mas sempre é bom ter a certeza de que se está certo.

Foro de São Paulo comanda. :P

23 de outubro de 2007

Volvo e Eu














Quadraaaaaaaaaaaaaado!!!

Nunca tive. (tá, essa foi infame)

Mas não por falta de vontade. Eu adoro marcas de automóveis, mas a Volvo AB (abreviatura de Aktiebolaget, o equivalente sueco de "S.A.") é uma das marcas pelo qual eu nutro um carinho especial, mesmo quando não merece: até bem pouco tempo atrás, os Volvo eram conhecidos pelo seu design quadrado, verdadeiros caixotes. Antes disso, quando tinham o design arredondado dos anos 50 e primeira metade dos 60, a Volvo chegou a lançar um esportivo extremamente simpático, o P1800, e vendeu bastante até. Mas não tinha apelo com seu público alvo: os jovens suecos da época o chamavam de "o esportivo dos velhos".

Fundada nos anos 20 como uma subsidiária da SKF, uma fabricante de peças, a Volvo fora anteriormente uma fabricante de rolamentos, mas mudou seu foco com a independência e a presidência de dois sujeitos, Assar Gabrielsson e Gustav Larson. O seu primeiro carro de sucesso surgiu no início dos anos 50 como uma alternativa para desovar chassis de vans subutilizados: nascia a primeira wagon da marca, a PV444. Desde os anos 40 a marca tem uma reputação de confiabilidade e vanguarda no uso de equipamentos de segurança.

A divisão de automóveis da Volvo foi vendida à Ford em 1999, ficando os caminhões, motores (inclusive turbinas de aviação) e máquinas de construção com o grupo original. No entanto, a marca manteve muito de sua segurança e, verdade seja dita, melhorou bastante em termos de design. Há quem goste dos caixotes dos anos 70, 80 e 90. Mas não é nada condizente com os tempos atuais (economia de combustível, maior eficiência aerodinâmica) e com a própria imagem de segurança da marca manter um farol quadrado (ou até mesmo um duplo farol redondo, parecendo uma carreta) ou um ângulo quase reto no pára-brisas.

Os rumores sobre a venda da Volvo Cars (e de todo o grupo PAG, que inclui ainda a Jaguar e a Land Rover) continuam, com a família Wallenberg, sueca, despontando na frente como potenciais candidatos. Nada mais justo, uma vez que isso tornaria a marca novamente pertencente à terra do rei Carl Gustav e manteria o uso de plataformas da Ford. Enquanto isso, eu continuo com sonhos de mulher, filhos, e uma V50 com motor flex na garagem.

22 de outubro de 2007

R.I., Uma Cachaça

Até a semana passada, como se já não bastasse o constante estado de tensão vivido pelos habitantes do Oriente Médio, o governo turco bombardeou posições do Partido dos Trabalhadores do Curdistão no Iraque, segundo o governo do subsequente. O PKK, em sua sigla em curdo, é uma organização de caráter separatista que deseja unificar as áreas onde possuam maioria étnica no Iraque, Irã, Azerbaidjão e, claro, Turquia. Por motivos óbvios, governos dos 4 países os oprimem com mão de ferro. Saddam Hussein chegou ao cúmulo de usar armas químicas contra eles em 1987, proporcionando uma das cenas mais horrendas que já vi no fotojornalismo: um bebê morto parcialmente coberto pela mãe igualmente defunta, com a boca aberta em desespero e o rosto coberto por um pó branco proveniente do gás.

O estabelecimento de uma região autônoma no norte do Iraque foi visto como uma óbvia vitória para eles, na luta para o estabelecimento de um país na região, que é bem montanhosa. Os turcos iniciaram a ação com um ataque de artilharia, chegando a destruir uma ponte e atingindo áreas rurais. O legislativo iraquiano ainda está decidindo que ação vai tomar a respeito, se bem que não se pode esperar muita coisa de um país que está às voltas com a violência interna, uma ocupação dos EUA e um exército em péssimas condições. De qualquer jeito, era motivo de esperar-se uma crise diplomática séria, pra dizer o mínimo.

Mas vejam como as Relações Internacionais são engraçadas e surpreendentes: o PKK pediu arrego e anunciou que vai negociar uma trégua nos próximos dias com o governo de Ankara. E eu que estava apostando num recrudescimento sério do conflito ao ponto de estender-se a uma ação séria no Mediterrâneo, contra os Gregos. Acho que ainda tenho muito a aprender... e por essas e outras, com muito gosto.

Uma coisa é certa, e que não é nem absurda de se considerar: essa pode ser a desculpa perfeita para a UE recusar a candidatura turca à entrada no clubinho de Bruxelas (palpite de um conhecido meu). Sarkozy e Angela Merkel, quando souberam, devem ter dançado em cima de uma bandeira com crescente-e-estrela...

17 de outubro de 2007

Engenho do Fim do Mundo

Bush não é exatamente um gênio, mas às vezes os parvos conseguem surpreender a gente, e isso costuma acontecer quando menos se espera. O caubói de dois neurônios recentemente anunciou que o governo iraniano deveria ser impedido de conseguir armas nucleares, uma vez que tinha um líder que já havia anunciado seu desejo de "destruir Israel". Caso contrário, corria-se o risco de deflagrar a Terceira Guerra Mundial.

Até aí nada de mais (!), já que nós sabemos que tipo de bravata contra o governo iraniano os EUA soltam desde o governo Reagan. Mas ele tocou num ponto nevrálgico das relações internacionais hodiernas. A simples suspeita de que o Irã esteja desenvolvendo armamentos nucleares já colocou pra funcionar as cabecitas feas dos estrategistas militares dos EUA, França, e principalmente Israel. O Instituto de Inteligência de Israel, mais conhecido como Mossad, já conseguiu identificar com sucesso possíveis locais de reatores e de estoque de matérias-primas para a fabricação de bombas-A no país do golfo Pérsico, bem como possíveis locais de estoques de bombas.

Passados os detalhes para as Forças de Defesa de Israel, a coisa começa a descambar para a estratégia militar do tipo mais esdrúxulo possível. Há quem diga que um ataque semelhante ao ocorrido ao reator nuclear de Osirak, no Iraque, em 1981, poderia ser levado a cabo contra as instalações iranianas e o complexo nuclear de Bushehr, onde estão a maior parte das usinas do país. Só que, sabendo da existência de um bunker reforçado alguns metros abaixo do complexo, avalia-se a possibilidade do uso de uma arma nuclear de baixa intensidade para arrebentar a fortificação.

Israel sabe das implicações que um ataque deste tipo irá ter no mundo. Armas nucleares nem são necessariamente o que existe de mais potente nos arsenais modernos (os ataques de napalm contra Dresden e Tóquio mataram mais gente), mas tem um efeito psicológico fortíssimo. Isso seria a desculpa perfeita para os árabes se juntarem em peso contra os israelenses, que inevitavelmente se veria ameaçado. Para isso, eles guardam um presentinho para a posteridade, a "Opção Sansão". Como o nome indica, significa botar pra quebrar com todos aqueles que resolveram tirar uma onda com a cara do filhote de Theodor Herzl, estejam envolvidos ou não.

A hipótese de uma série de mísseis Jericho chovendo sobre as capitais árabes e de quem estiver ao alcance, e de quebra iniciando um conflito em escala global, pra mim não é o melhor dos cenários. Por um lado, Bush está certo, embora eu não concorde com ele na esmagadora maioria dos casos. Mas mais chantagem faz Israel que o Irã.

16 de outubro de 2007

Mercado Desnudo

Em recente notícia ao melhor estilo "Piratas de Silicon Valley", descobriu-se que determinados importadores de produtos de tecnologia da informação aqui no Brasil sonegaram um monte de impostos, com o objetivo de favorecer determinada companhia multinacional da área. A tal companhia, aparentemente, é uma das grandes do setor, com sede nos Estados Unidos. Estima-se que deixaram de pagar cerca de R$ 1,5 bilhão ao fisco, devidos em meio a operações ilegais.

Até agora, a Polícia Federal tem 93 mandados de busca e 44 mandatos de prisão temporária, inclusive contra altos executivos da filial da empresa no Brasil e de empresas responsáveis pela importação. Segundo a Folha de São Paulo, a quem a notícia pode ser creditada, "O esquema utilizava laranjas para importação, ocultação e patrimônio, contrabando, sonegação fiscal, falsidade ideológica, uso de documento falso, evasão de divisas e corrupção ativa e passiva.". O dinheiro e os bens eram movimentados através de empresas off-shore em paraísos fiscais caribenhos, como as Bahamas e as Ilhas Virgens Britânicas.

O que mais uma vez suscita mais uma vez a boa e velha discussão sobre a necessidade ou não de regulamentação da economia, e olha que eu vou me abster de qualquer colocação sobre o socialismo aqui. Um liberal, olhando para uma grande empresa norte-americana fruto do boom de TI nos anos 80 tendo de recorrer a uma prática digna de muambeiro da Av. Dantas Barreto, no centro do Recife, tem o argumento na ponta da língua: é o excesso de obrigações e encargos impostos pelo Estado que os fazem recorrer a isso; corte-se o Estado que os crimes serão cortados.

É difícil crer em tal argumento quando consideramos uma situação lucro/lucro, como é a da tal empresa. Produtos de TI contém um enorme valor agregado pela própria natureza do trabalho envolvido em sua fabricação. Ou seja, rios de dinheiro continuariam a fluir para as contas bancárias de todos os que se beneficiam, sejam seus empregados ou acionistas. O que se considera aqui são 300 milhões de reais (considerando as cotações do dólar no período em questão, uns 120 milhões de verdinhas) por ano a mais ou a menos no balanço contábil da filial local, o que é uma quantia irrisória se considerarmos as suas operações globais.

O problema em questão não me parece ser necessariamente a falta ou o excesso de Estado. Tá mais pra ética mesmo dos dirigentes da companhia.

15 de outubro de 2007

Inevitável

Não adianta. Só escrevo aqui porque não adianta mais negar.

Eu achava que poderia passar toda a minha vida sem ter de recorrer a esse esquema. Era evidente, pelo menos até bem pouco tempo atrás, que minha felicidade não iria depender dela, e eu estava disposto a lutar até o fim para não dobrar os joelhos. Mas, pobre ser humano, feito de carne, osso e desejos.

A pressão às vezes parece insuportável. Muitos dos que já se entregaram à ela tentavam me dizer o quanto era irresistível. De início, era um mero recurso para passar incólume pelos problemas da vida. Aos poucos, começaram a descobrir os prazeres do seu uso continuado. Até que chegou o terrível momento a partir do qual não era possível mais passar um dia sem ela.

Ela está por toda a parte, em todos os círculos sociais. Gente de todos os estratos faz uso dela. Pode ser comprada em qualquer lugar, até mesmo sob os olhos de complacência da polícia. Membros do aparato repressivo do Estado fazem uso continuado da mesma, até. Para muitas pessoas virou até mesmo um mecanismo de contato social.

Eu também me rendi. Para manter minha performance nesse mundo competitivo, não tive outra escolha.

O doce aroma da xícara de café embriaga meus sentidos.

13 de outubro de 2007

dawn

Como vocês perceberam, nesta última semana este blog ganhou cores bem pessoais, em grande parte motivado por eventos que concerniam o blog antigo.

Pois bem.

A dawn está muito bem, sim. Eu também estou muito bem. Até agora, tudo bem.

Bem, bem, bem, bem.

10 de outubro de 2007

Do Inusitado, Quando Não Deveria Ser

"No Brasil, quem briga na rua usa jiu-jitsu. Capoeira acabou virando um negócio pra gringo ver".

Seca e categórica, essa afirmação. Digna de revolta de um nacionalista mais revoltado. Mas verdadeira (e em certa medida não tão digna de revolta assim: quem conhece um mínimo de artes marciais sabe que o que os Gracie fizeram com o jiu-jitsu não tem nada a ver com a arte original). Tirando um apupo de excentricidade aqui ou ali, capoeira nunca foi algo que eu encontrasse em cada esquina. Acho que está assim desde os anos 50, 60.

Hã, até hoje.

Eu estava voltando da academia (na falta de um dojô de aikidô, e de bons professores de budo em Arcoverde, é melhor que nada) e encontrei dois meninos, assim, de uns 12 a 14 anos de idade, jogando capoeira. Sem roda, sem calça e corda de algodão cru, sem berimbau, sem nada. E jogavam direitinho, ainda que na brinca. Um deles deu até um mortal pra frente, no meio da rua.

Vivendo e aprendendo nesse mundo.

9 de outubro de 2007

Folk Rock: Take Me Home, Country Roads...

E esses dias eu baixei um álbum do Jethro Tull, o "Songs from The Wood". Um dos melhores álbuns que eu já ouvi, e que vêm me chamando cada vez mais a atenção para este gênero. Tá, Jethro Tull pode ser considerado mais como progressivo/hard rock, mas este é o primeiro álbum de uma trilogia deles que combina elementos do progressivo com o folk. A principal influência deles deriva, entre outras coisas, do fato de seu vocalista, Ian Anderson, ter se mudado nesta época para uma casa no campo. Sugestivo, não? (mais sugestivo ainda é o fato de Jethro Tull ser o nome de um inventor de um implemento agrícola do século XVIII...)

O estilo está intimamente associado com o country rock e com o rock celta. Ele consegue englobar gente, dentro desse grande guarda-chuva, gente que vai de Bob Dylan a The Thrills, de Nick Drake a Neil Young, e como eu disse antes, de Jethro Tull a Buffalo Springfield. Na periferia dessa enorme e nebulosa zona, estão gente como John Denver e Woody Guthrie, mais "raízes", por assim dizer.

A maioria desses cantores, que circulam entre EUA, Canadá, Irlanda e Reino Unido (embora existam representantes até na Hungria, conhecida por suas vastas pradarias e pelos seus tradicionais vaqueiros que parecem gaúchos), obviamente cantam coisas relativas à sua terra, embora fujam do tradicional clichê country de "minha-mulher-me-traiu-e-vou-me-consolar-com-minha-vaca". No caso de John Denver e do movimento que deu origem ao estilo, existe até mesmo um forte viés esquerdista ou anti-globalização, o que fez que, nos anos 50, o estilo fosse até mesmo alvo de acusações da caça às bruxas do macarthismo.

Mas eu não posso deixar de perceber que a maior vontade que se tem ao ouvir o estilo é de caminhar por uma estrada de terra ladeada de árvores, de sentar no terraço de um sitiozinho simpático, tomar banho de riacho, jogar baralho à noite com os amigos na mesa da casinha, e dormir ouvindo o chiado da cachoeirinha ali da várzea...

8 de outubro de 2007

Para dawn

"Mal sabe que, ao ficar maravilhado com o espetáculo de bonecos, o espectador padece de deslumbramento pelo mamulengueiro..."

"Butterfly
Warmy welcome to my garden"
(Husky Rescue - Blueberry Tree, part I)

5 de outubro de 2007

Irmanados na Secura

Quando comecei este blog, uma das minhas primeiras idéias era a de fazer um blog temático com uma comparação entre o sertão nordestino e o Outback australiano, uma região seca que, ao contrário do que todo mundo pensa, tem mais vegetação do que o deserto propriamente dito e que ocupa a maior parte do país. Mas isso não impede o lugar de ser absurdamente seco.

E realmente o é. Em condições que provavelmente são piores que as do Nordeste, já que eles não possuem uma estação de chuvas como a nossa, que normalmente vai de janeiro até maio e atinge a maior parte do território. Essa falta de chuvas faz com que o solo não tenha fertilidade nenhuma - para plantas que não sejam nativas. Isso fez com que permanecesse em grande parte preservado, com exceção de certas planícies periféricas que servem para criação de gado e ovelhas. Mas você encontra xerófitas em abundância, principalmente, hã, plantas caducifólias baixas e de galhos retorcidos e brancos na época da seca... Tá, mandacaru não tem, mas aí já era pedir demais.

A vida animal é riquíssima também. Além de ser habitat natural dos cangurus e dingos, além de outras espécies de lagartos, crocodilos e cobras, também tornou-se o lugar de preferência de animais que tornaram-se selvagens depois de abandonados pelos primeiros colonos, como certas raças de cavalos e camelos.

A cidade mais importante da região é Alice Springs, localizada bem no meio do mapa da Austrália. Em termos populacionais, Alice Springs é menor que muito município paupérrimo do sertão nordestino. Um verdadeiro cú-do-mundo de 26 mil habitantes, como se pode ver pelas fotos. Mas ela calhou de ser uma cidade equidistante no meio de um país vasto e, talvez mais importante, de uma região esparsamente povoada (o sertão nordestino é o semi-árido mais densamente povoado do mundo, então é mais fácil atribuir importância a mais e maiores núcleos populacionais). Resultado: virou entreposto de estradas e ferrovias - e, num primeiro momento, de transportes aéreos.

Fotografias da região em si, você encontra aqui, aqui, e aqui. Eu particularmente achei impressionante a semelhança da região deles com a minha, aqui em Pernambuco, pelo menos em termos geográficos. Quem conhece também vai achar parecido.

4 de outubro de 2007

A Arte da Fita no Futebol

Não é cassette, nem VHS, muito menos Betamax. A fita a qual me refiro aqui é a arte de exagerar um determinado feito, geralmente uma agressão física. O sujeito que cai sozinho depois de vislumbrar um zagueiro colocando uma perna à sua frente e fica lá, gritando de dor como se tivessem decepado os dois pés. Fazer isso é uma arte. A capacidade desses jogadores é análoga à de qualquer ator vencedor do Oscar. Ou até melhor.

Me lembrei de um Palmeiras x River Plate em uma Libertadores dessas, acho que foi 2000 ou 2001. O Palmeiras já havia perdido o primeiro jogo na Argentina e estava perdendo de novo lá no Parque Antarctica. No final do jogo, uns 43 minutos do 2o. tempo, um jogador palmeirense teve um atrito leve com um argentino na beira do campo, sem o juiz ver. Quando o brasileiro está voltando para a partida, o argentino do nada cai no chão e simula um suposto soco que levou. Resultado: Jogador palmeirense expulso sem ter feito absolutamente nada.

O goleiro Dida, do Milan e da SeleNike brasileira, deu ontem uma aula de interpretação digna de Actor's Studio. Com o Milan perdendo por 2 a 1 pro Celtic fora da casa, e tendo que dividir uma segunda posição vergonhosa com o já referido time escocês (num grupo em que o Shakhtar Donetsk está em primeiro!), eis que entra um torcedor escocês em campo correndo para comemorar o segundo gol do time. O cara teve a infelicidade de dar um tapinha no ombro de Dida, no melhor estilo "valeu pela falha", e sair em disparada.

Dida ficou puto com a provocação, é claro, e se armou para correr atrás do engraçadinho. Só que, quando estava a ponto de ensaiar um dos momentos mas hilários (e potencialmente perigosos) da história do futebol mundial, uma luz desceu direto no seu cérebro e estragou nosso barato. Caiu no chão simulando um suposto murro que levou e teve que sair de maca do campo. Agora a UEFA está analisando o caso para ver se anula o resultado do jogo e dá uma punição ao Celtic.

Lógico que punição mesmo merecia o Dida. Mas eu espero que a UEFA não seja tão sacana quanto ele...

Fhtagn

















Legenda: Por que votar em um mal menor?

2 de outubro de 2007

Matou a Pau

O Radiohead (na minha pronúncia escocesa "cúl", Rrrrráidiohêd), segundo o Marcus Pessoa, do Velho do Farol, deu a maior rasteira que uma banda indie já deu na indústria fonográfica: a partir do dia 10 desse mês, qualquer pessoa pode baixar o disco novo deles, o In Rainbows, pelo valor que quiser, no site da banda ou do disco.

Atentem bem: o valor que quiser. Significa que, se você achar que o valor do disco dos caras é zero ou quiser baixar na faixa, pode digitar £0,00 no campo em branco e vão liberar o download para você. Ao mesmo tempo eles estão oferecendo uma edição de luxo por cerca de £40 em lojas e igualmente no site, mas você pode levar os arquivos de graça. Com a garantia de que tudo vai estar funcionando bem.

Particularmente, eu sempre achei que o artista devesse trabalhar fora das gravadoras. Eu me sinto pagando um atravessador que fica com a maior parte dos lucros de um trabalhador que rala pra caramba, e de quebra tem a obrigação de vender. A arte que vá para as cucuias. Mas a iniciativa do Radiohead é especial porque mostra que sim, existe vida após o mercado fonográfico. E ela pode ser tanto rentável para o artista quanto justa para com os consumidores.

Em tempo: Marcus Pessoa colocou a notícia no orkut, na comunidade "Botequim Socialista", sem creditar as fontes. Mas verificaram nos sites da banda e do álbum que eu postei acima, e a coisa é pra valer mesmo. Podem confiar. E eu baixaria, mas fico com vergonha de não dar ao menos uns dois tostões para ajudar a causa dos caras.

1 de outubro de 2007

Marta e a Bola, Bola e Marta

Há quem diga que é melhor perder como a seleção brasileira de 1982 (de Zico, Júnior, Sócrates, Falcão...) que ganhar como a de 1994 (de gente não menos boa como Branco, Raí, Taffarel...). Eu sou desses que concorda com a frase. E também acho que ela se aplica perfeitamente à seleção feminina que perdeu a final ontem, por 2 x 0, para a Alemanha.

A impressão que eu tive, vendo o jogo, foi a de que os esterótipos normalmente aplicados aos estilos de jogar das respectivas seleções masculinas puderam ser aplicados às femininas. As brasileiras tentaram fazer o jogo bonito que vinham fazendo já desde o início da competição. Chapéus, dribles geniais, futebol arte, lindo como uma pintura de Michellangelo ou de van Dijk. Mas deve ter sido por isso também que a Itália não ficou na vanguarda do desenvolvimento da Europa, e o mesmo motivo pelo qual o capitalismo holandês dos séculos XVI e XVII não se sustentou durante muito tempo...

Em compensação, a Alemanha jogou feito uma máquina. Precisa como uma ferramenta da Bosch, como um canhão Krupp, como um carro da Audi (Vörsprung durch Technik, lembra?). Fundamentos perfeitos, marcação perfeita, ataques perfeitos. Mas, sinceramente, o futebol mais feio que já vi, e olha que isso não é bolinho para alguém que já assistiu o Grêmio x Boca Juniors da final da Libertadores desse ano. Mas serviu.

Deve ser por isso que o peso da derrota não caiu como uma pedra sobre as costas do Brasil (e não, eu não credito essa indiferença ao preconceito do brasileiro com o futebol feminino - até porque metade do Brasil, as brasileiras, viram e gostaram). Fato é que, antes de ganhar, qualquer seleção brasileira tem a obrigação de jogar bonito. Está no nosso inconsciente. Fomos mal(?)-acostumados por Garrincha, Pelé, e uma penca de outros. Que se pode fazer? É por isso que nós ficamos com tanta raiva de o Ronaldinho fazer aqueles malabarismos no Barcelona e murchar a bola na Seleção (e naquele 1 x 0 para a França). É por isso também que nós (menos os gremistas) nos sentimos vingados por Alexandre Pato naquela final de Mundial, apesar de ser cedo para afirmar qualquer coisa sobre ele. É por isso que se valoriza mais o jogador que perde um jogo mas demonstra raça, amor à camisa e encara o jogo como se fosse um espetáculo, do que aquele que faz o feijão com arroz mal-temperado e ganha por 1 x 0. Ou até mesmo 0,5 x 0.

Na visão de Marta, a sorte a abandonou. Eu não seria tão pessimista assim.

27 de setembro de 2007

Joabas e Moaças

- Você poderia ir naquele campo lá nos mangues da Baía, pros lados de Niterói. Ainda está ativo, tem gente que ainda joga bola por lá.

Eu nunca fui ao Rio de Janeiro, por isso se me colocassem em, sei lá, Ouagadougou me dizendo que era lá, eu acreditaria. Por isso acreditei fielmente na palavra dos meus interlocutores, sentados na areia de frente para o mar em um lugar que lembrava e muito o Arpoador. De frente para eles e de costas para o mar, eu via o sol da tarde refletindo nos prédios da avenida logo atrás.

De repente, eu estava em um barco a motor pequeno, desses de pesca, chegando nos tais mangues. Eu começo a divisar, a uma certa distância, um campinho de grama baixa e seca, pouco mais alto que o nível das margens, aberto no meio do mangue. Dois times estavam, de fato, jogando por lá, já que dava para ouvir a movimentação típica de jogo de futebol. Desço, arrasto o barco e vou para a beira do gramado de várzea (literalmente).

Qual foi a minha surpresa quando vi que os dois times em peleja eram femininos. De um lado, estava um vestindo camisas vermelhas, do outro lado camisas rosa vivo. E todas eram mulheres lindas. Tá, mulheres e lindas é maneira de dizer. As faixas etárias circulavam entre os 17 e os 24 anos. E nem sempre as mesmas se encaixavam nos padrões de beleza ocidentais propagados a torto e a direito pela publicidade e indústria cultural. Mas a vivacidade, o sorriso nos rostos iluminados por aquele sol de fim de tarde... E havia, acho, uma representação dos mais diversos biotipos da sociedade brasileira lá. Pra todos os gostos: ruiva descendente de poloneses, mulata de algum bairro "decadence avec élegance" do Rio, índia guarani, loirinha descendente de alemã, descendente de italianos do cabelo castanho-claro e olhos verdes, nikkei da Liberdade...

Havia uma beldade de vermelho fora do campo e perto de onde eu estava, num banquinho tosco de madeira. Parece que havia sido substituída há pouco tempo. Cabelo preto preso em trança, moça da boca carnuda e de aparelhos tímidos nos dentes. Pergunto a ela qual o esquema daquele jogo, e ela me responde que elas jogavam ali sempre, todo sábado à tarde. As de vermelho faziam parte de um time chamado Moaças (?) e as de rosa eram as Joabas (???).

Lógico que eu me perguntei o que aquele monte de mulher estava fazendo naquele buraco e a razão para aqueles nomes de times esquisitos. Mas deu pra entender que se tratava de coisa antiga, acordo de amizade que se faz na terceira série. E eu também estava muito ocupado olhando a graciosidade do jogo delas. Não era uma seleção feminina da CBF, mas elas colocavam amor naquilo que faziam. E pombas, era uma questão de aproveitar a vida. O jogo ali era um mero pretexto para se encontrarem, rirem um pouco, e terem mais um assunto para conversar depois, quando saíssem. Elas se abraçavam para comemorar um gol chorado, riam que riam. E aqueles rostos se iluminavam.

Droga. Eu estou solteiro. E, pelo sonho, quem realmente poderia resolver meu problema mora longe, longe...

26 de setembro de 2007

Ainda o "Tropa de Elite"

Desta feita, trago um artigo de opinião escrito por Wagner Moura, pro(?)tagonista do filme, sobre as acusações de que o filme seria fascista. Sob muitos aspectos, ele fala a verdade, mas não sei se minha posição ficou clara nos posts anteriores.

O fato é que é verdade. Filmes de guerra não necessariamente precisam ter um viés pró-guerra. Tomemos como exemplo filmes como os americanos "Rambo I" (que, ao contrário dos outros, é abertamente contra o tratamento dado aos veteranos do Vietnã, verdadeiras buchas de canhão), "O Resgate do Soldado Ryan" ou "Flags of Our Fathers" (esqueci o título em português, mas é aquele que mostra o ponto de vista americano sobre a batalha de Iwo Jima, junto com sua contraparte japonesa, "Cartas de Iwo Jima"). O russo "9º Pelotão". O coreano "Tae Guk Gi - A Irmandade da Honra". Em todos eles, apesar de a ótica ser centrada no Estado agressor, nem sempre a postura é a favor. Pena que nem todo mundo entenda isso.

25 de setembro de 2007

Update:

"Tropa de Elite" é, de longe, o filme brasileiro mais cotado para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Capaz até do Bush gostar...

24 de setembro de 2007

Soa Familiar


























"Seja um cidadão de bem, junte-se ao BOPE!"

Ontem, o programa Fantástico, da TV Globo, mostrou as primeiras imagens oficiais e públicas do filme Tropa de Elite, considerado polêmico sob muitos aspectos. Primeiro, porque foi pirateado ao extremo - dá pra encontrar em qualquer esquina. Segundo, porque a forma pela qual trata o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (BOPE) é considerada por muitos "gloriosa", embora o que se veja ali seja uma sessão de tortura explícita.

O diretor nega. Para ele, a colocação de uma espécie de contraponto entre a corrupta polícia ostensiva carioca e o esquadrão especial inabalável, orgulhoso de seu treinamento, mas ao mesmo tempo violento e autoritário não se constitui como tal. Para ele, "a tortura perpetrada pelos policiais é de longe muito pior que a corrupção". Mas o fato de ter ex-policiais na produção ajuda a explicar um pouco essas posições.

Mas o filme, de uma maneira geral, mais acerta que erra. A polícia do Rio é, sim, reconhecida por ser uma das mais corruptas do país, mas as raízes da corrupção são mais complexas e não cabe aqui me reduzir a um simplismo. Do mesmo jeito, é sabido que a maior parte dos lucros do tráfico é fornecido pela classe média do "asfalto" - a mesma que se indigna com assassinatos brutais de seus irmãos em renda, pede pena de morte toda vez que uma menina bonita morre e faz trocentas passeatas vestidos de branco pedindo paz. Medidas inócuas e que não atacam de fato a raiz do problema.