27 de setembro de 2007

Joabas e Moaças

- Você poderia ir naquele campo lá nos mangues da Baía, pros lados de Niterói. Ainda está ativo, tem gente que ainda joga bola por lá.

Eu nunca fui ao Rio de Janeiro, por isso se me colocassem em, sei lá, Ouagadougou me dizendo que era lá, eu acreditaria. Por isso acreditei fielmente na palavra dos meus interlocutores, sentados na areia de frente para o mar em um lugar que lembrava e muito o Arpoador. De frente para eles e de costas para o mar, eu via o sol da tarde refletindo nos prédios da avenida logo atrás.

De repente, eu estava em um barco a motor pequeno, desses de pesca, chegando nos tais mangues. Eu começo a divisar, a uma certa distância, um campinho de grama baixa e seca, pouco mais alto que o nível das margens, aberto no meio do mangue. Dois times estavam, de fato, jogando por lá, já que dava para ouvir a movimentação típica de jogo de futebol. Desço, arrasto o barco e vou para a beira do gramado de várzea (literalmente).

Qual foi a minha surpresa quando vi que os dois times em peleja eram femininos. De um lado, estava um vestindo camisas vermelhas, do outro lado camisas rosa vivo. E todas eram mulheres lindas. Tá, mulheres e lindas é maneira de dizer. As faixas etárias circulavam entre os 17 e os 24 anos. E nem sempre as mesmas se encaixavam nos padrões de beleza ocidentais propagados a torto e a direito pela publicidade e indústria cultural. Mas a vivacidade, o sorriso nos rostos iluminados por aquele sol de fim de tarde... E havia, acho, uma representação dos mais diversos biotipos da sociedade brasileira lá. Pra todos os gostos: ruiva descendente de poloneses, mulata de algum bairro "decadence avec élegance" do Rio, índia guarani, loirinha descendente de alemã, descendente de italianos do cabelo castanho-claro e olhos verdes, nikkei da Liberdade...

Havia uma beldade de vermelho fora do campo e perto de onde eu estava, num banquinho tosco de madeira. Parece que havia sido substituída há pouco tempo. Cabelo preto preso em trança, moça da boca carnuda e de aparelhos tímidos nos dentes. Pergunto a ela qual o esquema daquele jogo, e ela me responde que elas jogavam ali sempre, todo sábado à tarde. As de vermelho faziam parte de um time chamado Moaças (?) e as de rosa eram as Joabas (???).

Lógico que eu me perguntei o que aquele monte de mulher estava fazendo naquele buraco e a razão para aqueles nomes de times esquisitos. Mas deu pra entender que se tratava de coisa antiga, acordo de amizade que se faz na terceira série. E eu também estava muito ocupado olhando a graciosidade do jogo delas. Não era uma seleção feminina da CBF, mas elas colocavam amor naquilo que faziam. E pombas, era uma questão de aproveitar a vida. O jogo ali era um mero pretexto para se encontrarem, rirem um pouco, e terem mais um assunto para conversar depois, quando saíssem. Elas se abraçavam para comemorar um gol chorado, riam que riam. E aqueles rostos se iluminavam.

Droga. Eu estou solteiro. E, pelo sonho, quem realmente poderia resolver meu problema mora longe, longe...

26 de setembro de 2007

Ainda o "Tropa de Elite"

Desta feita, trago um artigo de opinião escrito por Wagner Moura, pro(?)tagonista do filme, sobre as acusações de que o filme seria fascista. Sob muitos aspectos, ele fala a verdade, mas não sei se minha posição ficou clara nos posts anteriores.

O fato é que é verdade. Filmes de guerra não necessariamente precisam ter um viés pró-guerra. Tomemos como exemplo filmes como os americanos "Rambo I" (que, ao contrário dos outros, é abertamente contra o tratamento dado aos veteranos do Vietnã, verdadeiras buchas de canhão), "O Resgate do Soldado Ryan" ou "Flags of Our Fathers" (esqueci o título em português, mas é aquele que mostra o ponto de vista americano sobre a batalha de Iwo Jima, junto com sua contraparte japonesa, "Cartas de Iwo Jima"). O russo "9º Pelotão". O coreano "Tae Guk Gi - A Irmandade da Honra". Em todos eles, apesar de a ótica ser centrada no Estado agressor, nem sempre a postura é a favor. Pena que nem todo mundo entenda isso.

25 de setembro de 2007

Update:

"Tropa de Elite" é, de longe, o filme brasileiro mais cotado para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Capaz até do Bush gostar...

24 de setembro de 2007

Soa Familiar


























"Seja um cidadão de bem, junte-se ao BOPE!"

Ontem, o programa Fantástico, da TV Globo, mostrou as primeiras imagens oficiais e públicas do filme Tropa de Elite, considerado polêmico sob muitos aspectos. Primeiro, porque foi pirateado ao extremo - dá pra encontrar em qualquer esquina. Segundo, porque a forma pela qual trata o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (BOPE) é considerada por muitos "gloriosa", embora o que se veja ali seja uma sessão de tortura explícita.

O diretor nega. Para ele, a colocação de uma espécie de contraponto entre a corrupta polícia ostensiva carioca e o esquadrão especial inabalável, orgulhoso de seu treinamento, mas ao mesmo tempo violento e autoritário não se constitui como tal. Para ele, "a tortura perpetrada pelos policiais é de longe muito pior que a corrupção". Mas o fato de ter ex-policiais na produção ajuda a explicar um pouco essas posições.

Mas o filme, de uma maneira geral, mais acerta que erra. A polícia do Rio é, sim, reconhecida por ser uma das mais corruptas do país, mas as raízes da corrupção são mais complexas e não cabe aqui me reduzir a um simplismo. Do mesmo jeito, é sabido que a maior parte dos lucros do tráfico é fornecido pela classe média do "asfalto" - a mesma que se indigna com assassinatos brutais de seus irmãos em renda, pede pena de morte toda vez que uma menina bonita morre e faz trocentas passeatas vestidos de branco pedindo paz. Medidas inócuas e que não atacam de fato a raiz do problema.

20 de setembro de 2007

De Volta Aos "Bons" Tempos...

De um lado, nós temos Bento XVI e o retorno das missas em latim, o fim do diálogo com outras religiões, a maior intervenção da Igreja na vida política, o retorno do discurso oficial do "só depois de casar e só na base da tabelinha", bem como pastores ensandecidos no sul dos EUA usando o nome de Deus para justificar até um peido. Do outro lado, nós temos Osama bin Laden e outros extremistas islâmicos, com o retorno do discurso da expansão islâmica e morte aos infiéis, estabelecimento de um califado islâmico global, e agora, de acordo com este vídeo, retomada da Andaluzia.

Estamos voltando aos "bons" tempos. Os tempos das travessias do Estreito de Gibraltar (lembra? Gibr' al-Tariq). Da batalha de Poitiers. Do cerco a Constantinopla. Ao mesmo tempo, o tempo das Cruzadas, de todas as oito. De igrejas servindo de centro de alistamento. Do Papa abençoando escudos e espadas. Do estabelecimento do reino de Jerusalém e sua détente contra os árabes. Da guerra da Reconquista onde muita gente ia para a Espanha para os "mouros" guerrear.

Antes fosse o tempo de Avicenas e Averróis. De Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. De Omar Khayan e de Dante Alighieri. Da descoberta da medicina moderna e do pensamento humanista que levou ao Renascimento. Da Bagdá magnífica e reluzente, que podia ser vista de longe no meio do deserto, do mesmo jeito que a Veneza de sonhos que cismou de surgir no meio do mar.

No final das contas, este, mais que um choque de civilizações, é um conflito para saber quem tem o obscurantismo mais assustador.

19 de setembro de 2007

Moms I'd Like...

Quem me chamou a atenção, de início, foi Mary-Louise Parker. Ela é mais conhecida como a provedora de barato-mor de "Weeds", mais uma daquelas séries tapa-na-cara da conservadora sociedade americana. Mas o que me chamou a atenção foi a foto de chamada que puseram para uma notícia relativa a ela (a adoção de uma criança africana) na Folha Online. Ela, de uma maneira quase que kinskiana, estava nua em pêlo - maneira de dizer, estava nua em pele branquíssima mesmo -, enrolada numa cobra e exibindo curvas de dar inveja a muita menina de 18 anos. Infelizmente, parece que retiraram a mesma da página principal.

Parker tem 43 anos.

Em outros tempos, mulheres nesta idade, tirando fetiche de um ou outro escritor maluco (Milan Kundera no meio, basta ler risíveis amores), eram coisa que não saía do domínio de mentes doentias, e nos fazem, em muitos casos, pensar em pelancas, bundas e peitos flácidos. Mas a modernidade, ah, a modernidade... com suas drenagens linfáticas, suas malhações, pilates, yoga, ayurveda, sexo tântrico. Lógico que eu deixei as plásticas de fora: certos níveis de perfeição, de ânsia de segurar e sentir aquelas curvas nas mãos só podem ser conseguidos por métodos "naturais".

Qual foi minha surpresa no dia que eu descobri que Nívea Stellmann, que não é mais o que era antigamente mas ainda dá um belo de um brodo, nem um caldo, superou a barreira dos 30 há uns bons anos. Do outro lado do Atlântico, Catherine Zeta-Jones parece conservada no formol. A mulher do Otto, Alessandra Negrini, tem 37 anos, tudo em cima e em generosas proporções. Nicole Kidman também beira os 40 e ainda é de cair o queixo. A tendência é que as coisas continuem progredindo nas mais diversas etnias do mundo, para o deleite daqueles que incluem casamento nos planos. Eu no meio.

Para finalizar este post, deixo a campanha publicitária que Alicia Silverstone, recém-vegetariana e recém-trintona, fez contra os maus tratos contra animais para a Peta nos EUA. Continua com as mesmas cintura e quadris de "As Patricinhas de Beverly Hills". É o tipo de coisa que só nos dá motivos para manter a nossa esperança no futuro.

18 de setembro de 2007

Rapidinhas da Imprensa

Caiu há dois dias um meteorito no departamento (província) de Puno, divisa do Peru com a Bolívia, abrindo uma cratera de 30 m de diâmetro por 6 de profundidade. A cratera, que encheu-se de água após a queda, é apontada pelos moradores locais como sendo a causa de uma série de moléstias entre homens e gado locais. Segundo os moradores, os sintomas mais comuns são náuseas, vômito e dificuldades de respirar. Há quem diga que foi um teste das forças armadas locais de um novo obús de artilharia baseado em guano de lhama.

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O governo brasileiro dará asilo a 117 refugiados palestinos que estavam no Iraque. A decisão, acordada com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), beneficiará palestinos que estavam em um campo no leste da Jordânia e que foram recebidos por Saddam Hussein nos anos 80. Com a invasão americana em 2003, os palestinos foram alvo de violência por parte de grupos radicais xiitas em meio à guerra civil que tomou conta do país. Entre aqueles que virão para o Brasil, está um professor universitário de Agronomia. Wannabe skinheads paulistas apóiam a vinda dos mesmos para o Brasil, desde que não seja para São Paulo.

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O principado de Mônaco parece estar disposto a conceder a extradição do ex-banqueiro Salvattore Cacciola para o Brasil, desde que a denúncia seja bem fundamentada. Cacciola foi preso no principado na semana passada, quando seu nome figurou na lista de hóspedes de um famoso hotel cinco-estrelas e a lista foi repassada para a Interpol. Ele é procurado por cometer um desfalque de 1 bilhão de reais nos cofres públicos e beneficiar-se de informações privilegiadas sobre a alta do dólar em 1999. Já o principado de Mônaco vem se empenhando em não servir como paraíso fiscal e centro de lavagem de dinheiro oriundo de fins ilícitos. Ao menos os corruptos do mundo sabem agora para onde não devem ir.

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Em seu primeiro jogo na edição 2007/2008 da Liga dos Campeões, o Milan vence por 2 x 1 o Benfica, de Portugal. Jogando em casa e com os brasileiros Kaká e Dida como titulares, o time italiano venceu com gols de Pirlo e Inzaghi. Nuno Gomes foi o responsável pelo gol dos portugueses. Isso prova que as coisas não estão exatamente boas para o futebol europeu, já que o Chelsea empatou em casa com Rosenborg da Noruega (o que equivaleria mais ou menos ao Corinthians/MSI empatar com o Criciúma) e o Celtic perdeu para o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia (da mesma forma, seria como o Cruzeiro de 2003 perder para... bem... o Santa Cruz de 2006).

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Notícia fresquinha: o Santa Cruz não gostou nada do que eu digitei acima e ganhou do Paulista de Jundiaí, agora há pouco. Ainda bem.

17 de setembro de 2007

Tomou?

Não sei se acho isso bom ou ruim, mas certamente é algo que FHC não conseguiu em seus 8 anos de mandato: uma recomendação do Banco Mundial para o Bolsa Família.

Duvida? Regardez ça:

Can social policies go beyond assistance and become active tools of social and economic transformation? Brazil is showing us that they can. The Bolsa Família Program, which has technical and financial support from the World Bank, is cited as one of the key factors behind the positive social outcomes achieved by Brazil in recent years.

The Program is an innovative social initiative taken by the Brazilian Government. It reaches 11 million families, more than 46 million people, a major portion of the country’s low-income population. The model emerged in Brazil more than a decade ago and has been refined since then.

Aqui, com estudo detalhado do Banco aqui.

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Tomou, papudo?

15 de setembro de 2007

A Casa Caiu

Pelo menos para o ex-banqueiro Salvatore Cacciola. Respondendo a um alerta vermelho dado pela Polícia Federal, a Interpol prendeu o dito cujo... em Mônaco! Ao que parece, nossa justiça ainda não formalizou o pedido de extradição, mas deve fazê-lo em breve.

Uma coisa sempre me chamou a atenção no caso Cacciola: Tá, a Itália não pode extraditar um nacional seu a não ser em certas categorias de crimes, e crime contra a ordem financeira não está listado por lá. Isso é de praxe pra qualquer país, inclusive o nosso. Mas por que o STF não encaminhou um pedido para lá pedindo que o dito cujo fosse julgado pelo crime de acordo com o código penal de lá e perante um tribunal italiano?

Não custa nada lembrar: Cacciola era o antigo dono do banco Marka, que, junto com o FonteCindam, deu o calote no Banco Central que socorreu os mesmos durante a desvalorização do real em 1999. Cacciola pegou o dinheiro, não pagou, e como tinha cidadania italiana, fugiu para Roma.

Vai entender...

14 de setembro de 2007

Algo Que Não Se Pode Parar

Sente-se que o tempo está passando quando muitas de suas referências antigas começam a deixar de existir. Antes de transformar-se no carnaval de breguice que é hoje em dia, o SBT era, digamos, mais contido, e fornecia uma alternativa razoável na minha infância à Globo e à Manchete (obviamente, quando acabavam os desenhos das tartarugas ninja, do karatê kid e os tokusatsu japoneses). Mas como era de esperar-se, os bons programas de minha infância foram acabando. Primeiro Bozo, depois Sérgio Mallandro (na época que este ainda se dava algum respeito). Agora, um dos últimos resquícios dessa época morre.

No caso, Pedro de Lara. Jurado de programa de calouros por excelência, era turrão, levava vaias da platéia, mas era mais engraçado que Sílvio Santos, os calouros, Sônia Lima e Décio Piccinini juntos. Ele também interpretava um tal de Salci-fufu no programa do Bozo, do qual eu tenho apenas uma vaga lembrança e não mais. Quando o que prestava (afinal de contas, existe o trash que vale a pena ser visto e, bem, o resto na mesma categoria) no SBT acabou e foi substituído por programas de baixaria e novelas mexicanas, comecei a perceber que a televisão perdera seu encanto de infância. Por um lado foi bom. Por outro, nem tanto.

Pedro de Lara morreu de uma maneira que seria cômica, se não fosse trágica: recusando-se a tratar um câncer de próstata. Para alguém tinha pecha de brabo, ainda mais vindo de uma cidade no limite do agreste com o sertão, Bom Conselho, não poderia imaginar que agisse de outra forma, ainda que isto tenha custado sua saúde.

Acho que é assim que a gente vai percebendo que está ficando velho.

12 de setembro de 2007

Escapou Fedendo











Mas o cheirinho dela...

Pois é. Renan Calheiros escapou da cassação, ao menos em um dos processos pelo qual passava. Não vai ser agora que o membro de uma das 10 famílias que detêm 90% da riqueza do estado de Alagoas vai encontrar a devida justiça, embora na minha humilde opinião Renan está sendo o boi de sacrifício para dar um verniz de honestidade ao Congresso Nacional, em sua grande maioria já podre.

Em um processo conturbado, o saldo foi 40 votos contra a cassação, 35 a favor e 6 abstenções. Teve até briga de deputados com seguranças e alguns senadores para tentar ver a sessão na marra - e Fernando Gabeira protagonizou uma cena hilária com o senador Tião Viana, do PT-AC, já que o primeiro esmurrou o segundo por engano e depois deu um "beijinho pra sarar". Há quem diga que Tião Viana já merece ser chamado de mulher de malandro. Já quem provavelmente não achou muita graça foi Luciana Genro, que saiu com um corte feio na perna.

Mas verdade seja dita, acho que nunca na história dos processos levados a cabo naquele Congresso (e imagino que seja uma história capaz de ser contada em uma brochurazinha de 20 páginas) o cheiro de pizza demorou tanto pra sair. Até o último momento, a postura de empáfia de Renan ao dizer sistematicamente que ninguém o tiraria dali não passava de mise-en-scène, e ponto. Mas o dito cujo deveria saber de seus trunfos. E a pizza acabou saindo, pelo que eu percebi, uma calabresa acebolada e apimentada.

Melhor sorte (ou azar) nos próximos dois processos por quebra de decoro pelo qual ele vai responder. E, aos seis que se abstiveram, dizia Dante Alighieri que o inferno tem um lugar pronto para aqueles que, em momento de crise, não tomam partido.

11 de setembro de 2007

Rostos do Futuro

Em post de ontem, no qual se vê às voltas com alguém que questiona o fato de comparar Sandy com aquela moça hispano-americana que fez o High School Musical e posou pelada, o Hermenauta dá a dica de um site interessante: trata-se do projeto de um fotógrafo turco, Mike Mike (!), que produziu imagens compostas baseando-se em rostos fotografados aleatoriamente em pontos movimentados de grandes cidades do mundo. O resultado pode ser conferido em sua página, aqui.

Ele relata no site que, em determinado momento, enquanto andava no metrô londrino, olhou para as pessoas das mais diversas origens em sua volta, a grande maioria filhos bastardos do outrora enorme império britânico que agora vinham tentar a sorte na metrópole colonial. Eram jamaicanos, paquistaneses (pakis, para os neonazistas locais), indianos, malaios, nigerianos, chineses de Hong Kong, até mesmo irlandeses e australianos. E ele se perguntou: "afinal de contas, qual é a cara de Londres?".

Muito provavelmente sucitando questionamentos que motivaram o também jamaicano Stuart Hall a iniciar seus estudos culturais na Universidade de Birmingham (questionamentos sobre a validade do pensamento de Hall ficam pra outra oportunidade), double Mike colocou-se a imaginar como seria o futuro destas pessoas caso o intercâmbio não só cultural mas também genético se concretizasse de maneira ótima nos próximos anos nas tais grandes cidades. E foi assim que as imagens compostas saíram. No caso de Rio de Janeiro e São Paulo não chega a ser uma grande novidade, já que os rostos resultantes podem ser encontrados em cada esquina. Mas em sociedades ainda majoritariamente brancas, como a inglesa ou a alemã (vide as opções de cidade no site), ou até mesmo a argentina, deve ter sido um choque perceber que aos poucos a loirice tende a desaparecer. Ao menos para os mais conservadores.

10 de setembro de 2007

People's General

Semana passada, parece que o novo Ministro da Defesa, o sr. Nelson Jobim, começou a realmente mostrar a que veio. Para aqueles mais preguiçosos em clicar nos links, eu explico:

O mais recente livro governamental documentando casos de torturas e desaparecimentos durante os anos de ditadura militar (1964-1985) gerou um tremendo mal-estar dentro das casernas, e com razão, ao menos para estes. Ninguém gosta de revelar os esqueletos que guarda no armário, não é verdade? Mas o atual comandante do Exército foi além e divulgou uma nota repudiando firmemente a lei da Anistia política, instrumento criado com a intenção de "zerar o jogo" para ambos os lados, prescrevendo os crimes cometidos por organismos de resistência à ditadura, pessoas acusadas de crimes políticos, e, hã, bem, agentes oficiais ou a serviço do governo da época em ações de repressão à oposição. Curioso, não?

A iniciativa do governo, que faz uma mea-culpa do Estado brasileiro, foi vista dentro dos quartéis como sendo um primeiro passo rumo aos julgamentos dos diretamente envolvidos nos diversos crimes de ruptura da liberdade de expressão e pensamento político, tortura e assassinatos. Vendo a carta dos homens de farda, Jobim não teve dúvidas e ameaçou o general de Exército Enzo Martins Peri com a exoneração do cargo. Parece que o quatro-estrelas abaixou o facho depois dessa. Uns mais alarmistas dizem que ele está fulo de raiva a ponto de organizar um golpe, mas eu duvido. Principalmente depois que o diretor da famigerada ESG convidou João Pedro Stédile, há alguns anos atrás, para fazer uma palestra sobre a questão fundiária para diversos oficiais de alta patente. E, na visão de um importante historiador (embora se conteste na visão de quem), este é na verdade o primeiro passo para a completa superação de nossos traumas políticos da segunda metade do século XX.

8 de setembro de 2007

Listinha

"While ago somewhere, I don't know when
I was watching a movie with a friend.
I felt in love with the actress,
She was playing a part that I could understand."
Neil Young, A Man Needs a Maid.

Já se sentiram assim em algum momento? É difícil não se apaixonar por certas personagens do cinema. Seja pela graça, seja pela beleza, mas a gente sempre acaba se sentindo cativado. Abaixo segue minha listinha de top 5 de atrizes e papéis mais graciosos no cinema mundial.

1) Nastassja Kinski como Tess, no filme homônimo dirigido por Roman Polanski. Uma heroína romântica por excelência. Mas La Kinski, com aqueles olhões claros e expressivos, o cabelo castanho escuro e a boca carnuda, ajudou bastante no encanto que eu sentia pela personagem;

2) Natalya Bondarchuk como Hari na primeira versão de "Solaris", direção de Andrei Tarkovski. Uma pena que ela fosse uma tripla criação mental, de Kris Kelvin, do escritor Stanislaw Lem e do diretor. Dá pra entender como Kris quase foi a loucura, pois era impossível não se apaixonar por ela;

3) Liv Tyler como Arwen em "O Senhor dos Anéis", de Peter Jackson. Eu poderia morrer realizado se Tyler me dissesse aquelas palavras em qenya, a língua-alta dos elfos da Terra Média, que disse quando salvou o babão do Frodo Bolseiro. E, se alguém que consegue um feito muito do fuderoso não merece um elogio, mas um xingamento, então Aragorn é um grandesíssimo filho da puta;

4) Bibi Andersson como Mia, em "O Sétimo Selo", clássico de Ingmar Bergman. Andersson está muito próximo daquilo que eu acho que é um anjo. E a atuação dela como atriz de commedia dell'arte foi de cair o queixo;

5) Julie Delpy como Celine em "Antes do Amanhecer" e "Antes do Pôr-do-Sol", de Richard Linklater. Ela é uma intelectual cabeça formada na Sorbonne, ela gosta de jazz sem fazer disso o topo do cult, ela é bonita, é de esquerda, tem uma conversa legal... Quer mais o quê, porra?

* * *

Quer poesia?
Quer impressão do mundo desenvolvido sob a ótica de uma pernambucana?
Um Mundo de Reticências.
Cortesia de pensamento proporcionado pela senhorita Natália Urquiza.

6 de setembro de 2007

Nêmesis, Cada Um Com A Sua

Cada um tem a sua, pelo menos os blogueiros homens com quem tive mais contato. O Hermenauta, por Scarlett Johansson; Nelson Moraes (ou seu alter-ego, o almirante Nelson), por Millicent; Rafael Galvão é um caso à parte, já que eu suspeito que ele divida sua atenção entre aquele blogueiro que chupa pé e aquela blogueira que o perseguiu no RJ (ambos me fogem os nomes); José Marcelo é todo olhos, ouvidos, barba, criatividade e prato de macarrão para Bruna, a sua senhora; Tiago Maciel é de "todas as mulheres do mundo", embora eu também suspeite que ele faça restrição às feias, exceto em casos de baixo teor alcoólico em sua corrente sanguínea; pra terminar, Luís Biajoni agora só quer saber de Virgínia Berlin, por motivos óbvios.

E eu? Difícil dizer. Nos meus blogs anteriores eu cansei de me derreter em elogios às meninas pelas quais eu me apaixonei (e de 2002 pra cá não foram poucas). Acho que é uma questão de paixão da vez. Como eu por enquanto estou sem nenhuma, ou pelo menos preservar minha figura para evitar dar explicações chatas no futuro, então minha nêmesis fica omissa. Mas não poderia usar esse pretexto para me furtar a oportunidade de falar sobre a nêmesis de 11 em cada 10 stalkers de sites de relacionamento (a-hem): as fotologgers.

Eu já tomei uma bronca da namorada de um colega meu por falar mal da maioria das cocotas, que compõem uma porcentagem significativa das fotologgers. Verdade seja dita, eu estava de péssimo humor naquela época, e o texto foi muito mais um desabafo ranzinza que uma verdadeira exposição dos meus reais sentimentos para com as moças de biquinho. Portanto, minha quase-cunhada (já que esse meu colega em questão é quase um irmão pra mim), fique tranquila que dessa vez eu vou maneirar.

Já supracitei a principal característica da fotologger clássica: o biquinho. Mas, pombas, por que o biquinho? Provavelmente com relação à moda de modelos bicudas atualmente (atualmente?) em voga no mundo fashion. Tal característica é motivo de piadas a torto e a direito, como aquela história de colocar uma bombinha na boca da fotologger, acender e sair correndo...

Além disso, tem o sinal de "V". Cópia novamente da atitude das modelos, principalmente de Giselle Bündchen - que recentemente, foi flagrada fazendo o sinal e dizendo, com enorme ar de enfado: "Oh, my God...". Pudera. Se eu estivesse na Daslú também ia dizer a mesma coisa. Mas no caso delas é muito mais um pastiche que qualquer outra coisa.

Terceiro, decotão. Geralmente com aquelas blusas de grávida, em alguns casos para parecer chique (?), em outros, para esconder uma barriguinha nada discreta. A principal causa de reclamação das fotologgers contra stalkers poderia ser facilmente solucionada se, bem, colocassem fotos mais discretas. Exposição pessoal atrai esse tipo de gente, mesmo. Ou o quê, acha que aquele "gatinho" do terceiro ano vai perder tempo olhando pro teu fotolog, enquanto está malhando, fazendo hidratação naquele cabelo estilo Gianechinni, ou se preparando para a próxima micareta?

5 de setembro de 2007

Olhos Bem Abertos

Depois de muito tempo, consegui assistir Animatrix.

De longe, um dos filmes mais chocantes visualmente que já assisti. E olha que eu já vi "Akira" de madrugada, aos 13 anos.

4 de setembro de 2007

"Ah!!! É Mercenário!!!"

Pode-se dizer que é uma época perigosa, essa nossa. A visão do governo americano ultimamente parece a de uma igreja evangélica de garagem. A diferença entre um e outro é que os últimos vêem o demônio por toda a parte, e os primeiros, quase isso, já que só vêem terroristas muçulmanos. A semelhança entre um e outro é que ambos estão lucrando devido ao que dizem ver. Os últimos lucram dos fiéis, que em sua maioria pagam pra ter uma salvação rápida dos pecados que dizem ter na mente. Já a Casa Branca lucra de um monte de fontes: eleitores assustados (e em alguns casos, canalhas mesmo) do Partido Republicano, empresas petrolíferas, empresas de armamentos...

E empresas de segurança privada. Nome utilizado para um fenômeno que já é mania das elites do país, que pagam um absurdo para ter aquilo que o Estado não fornece, a segurança - mas que, de uma maneira mais indireta mas ainda assim relacionada com o problema, poderia se resolver também se muita gente aceitasse e lutasse por uma melhor distribuição de renda. Só que, enquanto cá, do lado sul do continente americano, tem gente que já reclama do caráter de exército privado que muitas destas empresas já possuem, não imaginam o que já se faz por lá. Mais precisamente uma obscura companhia conhecida como Blackwater USA.

A Blackwater começou como uma empresa de segurança destinada a fazer aquilo que já conhecemos, como transporte de valores, proteção pessoal e patrimonial, e por aí vai. Só que eles perceberam o filão que se escondia também em conflitos internacionais, onde poderiam realizar diversas tarefas, entre elas a proteção de instalações militares, autoridades governamentais, e... treinamento de forças armadas, fornecimento de tropas para combate e fabricação de armamentos.

Eles não são tão cara de pau a ponto de admitir isso. Mas está na cara que o nome disso é mercenarismo. A coisa para a Blackwater está tão avançada que eles já possuem uma off-shore baseada nas Bahamas para a contratação de pessoal de países do Terceiro Mundo, estão em processo de compra de aviões Embraer Super Tucano para combate contra-insurgência e desenvolveram um veículo blindado próprio, o Grizzly. Também estão em processo de compra de uma propriedade rural na Califórnia para treinamento militar de um grande número de pessoas, bem como no desenvolvimento de um UAV, na prática um aeromodelo sofisticado capaz de lançar até mísseis.

Agora, me digam uma coisa: uma organização dessas, tão bem estruturada e com tantos recursos humanos e materiais, não poderiam oferecer aos EUA um risco maior que a Al-Qaeda, já que estão bem pertinho?

Lógico que não. Primeiro, porque a Blackwater trabalha na segurança de diversas instalações do Exército norte-americano no Iraque e Afeganistão. Inclusive, dão treinamento aos exércitos destes países. Segundo, terrorista por terrorista, é melhor proteger alguém que "jura fidelidade à bandeira americana e a tudo o que ela representa...".

3 de setembro de 2007

Pequenos Prazeres da Vida

Não importa o quanto se gastou (até porque foi um preço justo): o melhor pastel de 4 sabores e com acompanhamento que já comi foi justamente aqui, em Arcoverde. Quem diria, hein?