19 de janeiro de 2008

...Mas Não Perde A Pose

O passatempo preferido de velhos ricos - ou novos pobres - é falar com profunda nostalgia dos tempos de fausto. Por mais que consigam manter alguns bons tostões na conta bancária, nunca, para a sua infelicidade, os tais aristocratas vão se igualar em nível de verdinhas aos novos ricos. No entanto, estes não possuem a mesma finesse dos referidos detentores de títulos de nobreza, e por isso são motivo de piada. Mas o que acontece quando um nobre falido inventa de querer manter os mesmos costumes de um novo rico?

Matéria do Le Monde Diplomatique fala sobre as novas iniciativas de Sarkozy, o Collor francês, com o intuito de projetar o poder de la République da mesma forma como a dita cuja fazia antes da Primeira Guerra Mundial. A França em si nunca deixou de ter um certo nível de projeção de suas forças militares: não se pode chamar de fraco um país com um porta-aviões nuclear (um segundo em construção), pelo menos quatro submarinos com mísseis balísticos, e uma série de bases em algumas de suas antigas colônias, como o Djibuti e a República Centro-Africana. Mostrou seu hard power na hora de esmagar uma ação de rebeldes na Costa do Marfim e de certa maneira ajudou a proteger o Mali durante uma tentativa de invasão pela Líbia nos anos 80.

Mas agora parece que Sarkozy está tendo devaneios à la americana, o que na verdade não chega a ser nenhuma surpresa. Basta lembrar que ele foi eleito com uma plataforma de governo que incluía um choque de gestão no mesmo estilo do levado a cabo por Thatcher e principalmente Reagan. Sarkozy representou também uma quebra na política externa francesa para os EUA que vinha sendo adotada pela UMP desde os tempos do general De Gaulle, diria até colaboracionista o suficiente para fazer com que o narigudo que achava que não éramos sérios se retorça na sua cova.

Estou falando da iniciativa do presidente francês de instalar uma base militar permanente nos Emirados Árabes Unidos, já há algum tempo um dos principais clientes de material bélico francês na região. A tal base teria capacidade para abrigar não só tropas, mas também fornecer apoio permanente para uma força-tarefa naval francesa no Golfo Pérsico.

Os motivos são óbvios. A tal base ficaria no emirado de Abu Dhabi, pertinho do estreito de Ormuz, o único acesso do Golfo para o mar da Arábia e o Oceano Índico. De lá, ele teria uma casa de veraneio com vista para a costa iraniana. Com este movimento, Sarkozy dá um aviso militar claro para qualquer tentativa iraniana de colocar as mangas de fora - muito embora questione-se a eficácia militar desta iniciativa, vide a estratégia militar americana - e ao mesmo tempo angaria o apoio dos pequenos Estados da região, temerosos de uma aventura militar iraniana na região. Estratégia plausível, muito embora dentro de uma visão de mundo paranóica e militarista.

Mas fica a pergunta no ar: quem vai bancar a aventura? Se você responder o contribuinte francês, que possivelmente veria dinheiro que antes financiava a previdência sendo destinado à compra de fuzis, tanques, navios e caças mais bonitinhos, pode abrir o champanhe e fatiar o camembert para comemorar a sua perspicácia.

Nenhum comentário: