6 de janeiro de 2009

Não Dá

Eu até queria fugir do tema "Conflito no Oriente Médio" hoje. Mas não dá. Não depois das notícias de hoje.

É mais fácil ser um pacifista completo, do tipo que abraça árvore, quando a gente imagina uma guerra onde, por mais assimétrica que seja, somente marmanjos com cara de mau lutam. Não importa se um dos caras tem kevlar cobrindo cada centímetro de pele e o outro tem mal e mal um fuzil com as balas contadas no carregador.

Os israelenses deram hoje uma mostra do quão baixo desceram da Segunda Guerra até agora, do quanto se "esforçaram" para perder a razão que tinham ao sobreviverem ao Holocausto. Eu já havia percebido isso com a frieza de analista político em outros confrontos, ou seja, distante, hermeticamente preso a uma definição de livros.

Não mais.

Durante a ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, hoje, tanques de guerra e aeronaves israelenses destruíram duas escolas das Nações Unidas, com dísticos bem visíveis, e onde civis se abrigavam. Imagino a cena desesperadora dos tanques, enormes e impessoais, virando suas torretas na direção dos prédios e apontando seus telêmetros laser para o interior da estrutura. Os projéteis de 120 mm atingindo as paredes. Finalizando, um míssil mergulhando do céu numa trilha de fumaça, reduzindo tudo a escombros.

Que se dane se o Hamas está usando civis como escudos humanos. Que se dane se eles dispararam foguetes, que se dane quem atirou a primeira pedra. Tudo isso está acontecendo por que Israel não conhece mais limites às suas ações. Faz o que faz porque sabe que ninguém vai repreender, como uma criança mimada. Fazendo uma analogia com o taoísmo, há um claro desequilíbrio de Yin e Yang aqui nesta situação.

Eu tenho o direito de ficar indignado quando a polícia brasileira atira primeiro e pergunta depois, para descobrir que matou uma pessoa inocente. Sobra um pedido de desculpa esfarrapado para as vítimas. Porque eu não posso ficar indignado quando um exército inteiro mata centenas de inocentes com a desculpa de manter a lei e a ordem num território que nem é o deles.

Israel não está ameaçado, em última análise, pelos árabes em si. Está ameaçado pela sua própria destruição moral, pelos recorrentes recursos à força, pela fascistização de sua sociedade que não conhece argumento melhor que uma Uzi de carregador cheio.

Nenhum comentário: