29 de janeiro de 2009

Como Assassinar A Lógica

Quando se faz de tudo para defender uma tese que não necessariamente correta, um orador frequentemente lança mão de um recurso lógico não muito honesto conhecido como falácia. Basicamente, uma falácia é a distorção de um fato concreto de modo a adequar-se aos nossos interesses. Era muito utilizada por um grupo de oradores da Grécia antiga conhecidos como sofistas (que mais tarde viriam a tomar um cacete de discurso da parte daquele velho gordinho e de olho azul), e hoje em dia qualquer um que utilize-se desse discurso é chamado de sofista.

O título de sofista da semana aparentemente vai para Alexandre Garcia, repórter da Globo que cometeu uma pérola do assassinato à lógica ao propor duas situações absurdas quanto ao caso do italiano Cesare Battisti, a quem foi concedido asilo político em oposição à decisão da justiça italiana de condená-lo à prisão perpétua por assassinatos ocorridos nos "anos de chumbo", durante a década de 70. A situação ocorreu ontem, durante o Jornal Nacional.

Garcia começa enunciando a primeira hipotética situação, onde considera que os brasileiros não gostariam nada caso Fernandinho Beira-Mar recebesse asilo político na Itália. Depois, outra situação hipotética na qual Osama bin Laden receberia asilo político no Brasil por considerar-se seus crimes como tendo caráter político.

Na primeira situação, o repórter global comete uma falácia de associação, na qual uma associação apressada entre duas situações é feita com o intuito de provar-se um ponto de vista. Neste caso, os crimes de Beira-Mar não possuem nenhuma associação com os de Battisti: o primeiro responde principalmente por tráfico de entorpecentes, armas e homicídios ocorridos em associação com práticas criminosas largamente reconhecidas como tal. Já Battisti cometeu 4 homicídios dentro de um contexto de luta política, onde a tipificação do crime pode sofrer um viés político, ainda mais se considerarmos as leis de exceção vigentes na época.

Na segunda, Garcia comete uma falácia conhecida como tese irrelevante. Nesta falácia, apesar de a consideração levada em conta por Garcia ser válida (abrigar Osama bin Laden por crimes políticos é, de fato, uma atitude questionável), é no entanto irrelevante para a situação em questão: a situação de Battisti é totalmente distinta da situação de bin Laden, principalmente se levarmos em conta a motivação dos crimes.

Em tempo: eu ainda fui à final em Lógica durante a faculdade.

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