18 de dezembro de 2007

Devaneiando

Matéria do Estado de S. Paulo via o escandaloso Defesa@Net dá conta dos planos que a Marinha do Brasil tem para depois da construção do submarino nuclear, autorizado pelo governo federal e que será declarado operacional em 2020 (!). Os prazos dizem respeito ao tempo necessário para a aquisição de tecnologias vitais para o completo ciclo de desenvolvimento da nave, desde o reator (cujo projeto, por sinal, já está pronto e será utilizado nas usinas nucleares brasileiras a serem construídas nos próximos anos) até o submarino em si, casco, sistemas eletrônicos e tudo o mais. Não fosse, na minha opinião, um absurdo construir um trambolho desses, eles ainda querem comissionar mais um bocado nos próximos anos.

Parece que eles querem partir para o ataque com tecnologias completamente novas. Vejam isso aqui:

Há também vários segredos. O maior deles, ligado ao projeto, é o da tecnologia do eixo que leva movimento à enorme hélice destinada a movimentar o navio. O maior problema nessa área é limitar ruído e vibração. Empregando um conceito derivado da construção de ultracentrífugas nacionais, empregadas no enriquecimento do urânio usado como combustível de reatores, o eixo de 80 metros será magnético, funcionando sem barulho e, melhor ainda, sem atrito entre as partes móveis.

Acho que nem J. J. Benítez teria uma idéia igual. Ok, ele escreveu sobre a propulsão magnetohidrodinâmica, mas o que os engenheiros da MB pretendem fazer é no mínimo surpreendente considerando um país de Terceiro Mundo.

E o projeto da base para abrigar o submarino, então?

Esses gigantes vão operar a partir de uma nova base naval, que tem grande chance de ser instalada no litoral de São Paulo, ao norte de São Sebastião. Alí, no bolsão de águas calmas e profundas, onde a topografia da costa é pouco acidentada, os navios atômicos, protegidos por baterias de mísseis antiaéreos, seriam preparados para cumprir missões permanentes de patrulha. (...)

O complexo de edifícios da base será todo coberto para escapar do olho dos satélites militares. O prédio da doca funcionará com berços flutuantes e diques de drenagem - as embarcações serão movimentadas para dentro e para fora com auxílio da água do mar. Sempre rapidamente, quase sempre durante a noite, ao amanhecer, ao cair da tarde ou quando houver neblina. Recursos mínimos para reduzir - mas não evitar - a observação eletrônica.

Tudo isso - da divisão do ambiente ao compartimento onde ficará o reator, o centro de combate e até a nova base - está pronto, em escala, no discreto pavilhão M, do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), no campus da USP. Ali há maquetes de engenharia que vêm sendo periodicamente atualizadas desde os anos 80, quando o programa, então considerado secreto, teve início.

Isso me fez lembrar de um artigo que eu estava vendo na Wikipedia, quando estava pesquisando sobre a Guerra Fria. O fato é que, na histórica cidade ucraniana de Balaclava, onde ocorreu uma das mais ferrenhas batalhas da Guerra da Criméia, os soviéticos construíram uma base secreta de submarinos que operariam a partir do mar Negro e projetariam-se dali para o Mediterrâneo (e talvez para o Atlântico, se os ingleses permitissem uma improvável passagem através de Gibraltar). Por fora, a base era apenas uma porta de concreto que dava acesso a um porto enorme escondido dentro de uma caverna artificial em um dos muitos promontórios do lugar. Era considerada tão resistente a ponto de resistir ao impacto direto de uma ogiva nuclear. Hoje, ela é apenas um museu.

Mas eu me pergunto, agora. Estariam os milicos da MB pensando em algo parecido?

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