2 de agosto de 2009

Elegia

Quando escrevi, na semana passada, um obituário sobre a situação de meu time de coração, me senti em uma posição delicada e não pude deixar de ter, ainda, uma ponta de esperança sobre sua recuperação. Nessas horas você começa a apelar pra expedientes mágicos, e na ânsia de sair dessa situação desesperadora muita gente jogou a ética e a moral para as cucuias. Eu não os culpo. Aliás, é difícil definir o que sente o torcedor ao ver suas últimas esperanças se esvaindo. Mas acho que posso ilustrar da seguinte forma:

Imagine você que uma pessoa muito querida sua (um parente próximo ou um de seus melhores amigos) descobriu, em 2006, que tinha câncer, AIDS ou uma doença degenerativa potencialmente fatal. Desde então, ele não faz outra coisa a não ser definhar. Imaginando ainda que você tenha recursos de ajudá-lo, você termina apelando para todo e qualquer tipo de tratamento miraculoso - afinal de contas, você abandona toda a sua racionalidade com o objetivo de salvar aquela pessoa a qualquer custo.

Só que os tratamentos que médicos e terapeutas prometem não dão resultado. Na verdade, alguns desses médicos e terapeutas, descobrimos depois, na verdade eram charlatões que estavam se aproveitando da boa fé e do desespero das pessoas que circundam o doente. Chega a um estado em que, não importa o tratamento aplicado, ele não irá responder (e isso ocorre mais precisamente no último trimestre de 2008). Este é o estágio terminal da doença, acompanhado das já esperadas infecções oportunistas. Um belo dia, o organismo não resiste mais e falece.

O que aconteceu com o Santa Cruz nos últimos anos foi mais ou menos isso. Nos prometeram muitas soluções mágicas, mas nenhuma realmente deu certo, ou então só pioraram a situação. A crônica ausência de gols, o excesso de volantes, a péssima qualidade dos laterais são situações que poderiam ser facilmente contornadas caso o organismo, ou seja, o clube, estivesse em boas condições. Isoladamente, fora do contexto que o clube já vivia desde a derrota no Pernambucano de 2006, elas não fariam diferença. Quando o time perdeu na quarta rodada de uma fase inicial de 6 partidas, com um retrospecto nada animador, de certa maneira sabia que aquele era o último suspiro de meu time. E aí que mora o perigo.

Sim, porque quem já teve a tristeza de perder um ente querido sabe como é difícil aceitar uma perda. Você acha, durante algum tempo, que nada disso aconteceu. Que tudo foi um pesadelo, e o falecido vai entrar, em carne e osso, pela porta da frente, firme e forte, e ainda contando anedotas. O problema é que os que se vão nunca voltam (e não é minha intenção discutir teologia neste texto). No fundo, as esperanças se mantêm, embora possa se questionar a salubridade desse tipo de pensamento.

Eu fiquei profundamente triste com a derrota de hoje para o time do Central, pois ainda mantinha uma faísca de esperança de que o time pudesse se recuperar. Isto não aconteceu, como se sabe. E a anunciada morte do time foi consumada no "enterro" de hoje. Acredito que devemos honrar o morto e prestar-lhe os últimos deveres fúnebres no próximo domingo. Restará a lembrança de um time que, outrora, nos deu tanto orgulho. Como os bons momentos que passamos ao lado daqueles que amamos, mas que por algum motivo se foram para não mais.

Nenhum comentário: