21 de agosto de 2007

Ando Meio Desligado...

Já se sentiu meio fora do lugar no mundo, em algum momento de sua vida? Imagina então quem viveu uma das muitas situações bizarras proporcionadas pelas mudanças de fronteira e extinção de Estados nacionais ocorridas no século XX? Expatriado era a coisa que mais tinha na Europa do entre-guerras e nos primeiros anos do pós-Segunda Guerra Mundial: gente que, um belo dia, descobriu que o país no qual vivia não existia mais, que era "rejeitado" pela instituição que havia se estabelecido no lugar, e que dificilmente um outro país o acolheria por já ter problemas suficientes com os próprios nacionais, normalmente em situação de penúria naquela época. H. M. Stimmel, escritor alemão que é um dos melhores cronistas da Alemanha na Guerra Fria, materializa esta situação na figura da bela e sofrida Mitzi Szapek, do livro "Pátria Amada", que roda meia Europa até ser acolhida por um checkpoint americano no Muro de Berlim.

A situação dos apátridas ganhou guarida principalmente durante a década de 60. O Brasil tem até mesmo um passaporte especial - amarelo, diferente do azul que é usado pelos brasileiros que saem do país por motivos não-oficiais - para aqueles que não possuem nacionalidade mas que entram no país. Mas, alguém por acaso já ouviu falar de uma determinada organização exercer soberania sem ter povo ou território?

É o que acontecia com a Igreja Católica após a unificação da Itália, quando a casa de Savóia ocupou pela força os estados papais no centro da bota. Mas a situação deles se resolveu com um conchavozinho que fizeram em 1929, com Mussolini, que deu um bairro de Roma a eles para criar o Estado do Vaticano, hoje soberano como qualquer outro. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha também é analisado de maneira semelhante, mas lembra muito mais uma organização internacional que um ente soberano. Em situação análoga, hoje, só a Ordem dos Cavaleiros Hospitalários de Malta, Rodes e São João de Jerusalém.

Ué, mas eles não tinham acabado na época das Cruzadas? A existência dos mesmos como soberanos de um território resistiu até cerca do século XVIII, quando o último bastião deles caiu sob a mão de ferro de Napoleão. Malta mais tarde tornaria-se uma colônia inglesa e importante posto de abastecimento para a marinha de Sua Majestade, muito ativa durante o século de imperialismo no qual o sol nunca se punha no império britânico. Mas continuaram a comportar-se como se fossem uma instituição soberana, elegendo líderes, oferecendo comendas e, o que é mais decisivo, estabelecendo relações diplomáticas com diversos países - o Brasil incluso...

Nada mal para os resquícios de uma ordem cruzada, hã?

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