Já se sentiu meio fora do lugar no mundo, em algum momento de sua vida? Imagina então quem viveu uma das muitas situações bizarras proporcionadas pelas mudanças de fronteira e extinção de Estados nacionais ocorridas no século XX? Expatriado era a coisa que mais tinha na Europa do entre-guerras e nos primeiros anos do pós-Segunda Guerra Mundial: gente que, um belo dia, descobriu que o país no qual vivia não existia mais, que era "rejeitado" pela instituição que havia se estabelecido no lugar, e que dificilmente um outro país o acolheria por já ter problemas suficientes com os próprios nacionais, normalmente em situação de penúria naquela época. H. M. Stimmel, escritor alemão que é um dos melhores cronistas da Alemanha na Guerra Fria, materializa esta situação na figura da bela e sofrida Mitzi Szapek, do livro "Pátria Amada", que roda meia Europa até ser acolhida por um checkpoint americano no Muro de Berlim.
A situação dos apátridas ganhou guarida principalmente durante a década de 60. O Brasil tem até mesmo um passaporte especial - amarelo, diferente do azul que é usado pelos brasileiros que saem do país por motivos não-oficiais - para aqueles que não possuem nacionalidade mas que entram no país. Mas, alguém por acaso já ouviu falar de uma determinada organização exercer soberania sem ter povo ou território?
É o que acontecia com a Igreja Católica após a unificação da Itália, quando a casa de Savóia ocupou pela força os estados papais no centro da bota. Mas a situação deles se resolveu com um conchavozinho que fizeram em 1929, com Mussolini, que deu um bairro de Roma a eles para criar o Estado do Vaticano, hoje soberano como qualquer outro. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha também é analisado de maneira semelhante, mas lembra muito mais uma organização internacional que um ente soberano. Em situação análoga, hoje, só a Ordem dos Cavaleiros Hospitalários de Malta, Rodes e São João de Jerusalém.
Ué, mas eles não tinham acabado na época das Cruzadas? A existência dos mesmos como soberanos de um território resistiu até cerca do século XVIII, quando o último bastião deles caiu sob a mão de ferro de Napoleão. Malta mais tarde tornaria-se uma colônia inglesa e importante posto de abastecimento para a marinha de Sua Majestade, muito ativa durante o século de imperialismo no qual o sol nunca se punha no império britânico. Mas continuaram a comportar-se como se fossem uma instituição soberana, elegendo líderes, oferecendo comendas e, o que é mais decisivo, estabelecendo relações diplomáticas com diversos países - o Brasil incluso...
Nada mal para os resquícios de uma ordem cruzada, hã?
21 de agosto de 2007
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