15 de agosto de 2007

Pastiche

Vejam bem, eu disse pastiche, não pistache. A palavra estranha, de origem francesa, refere-se a uma obra artística que imita o estilo de um outro autor, geralmente consagrado (cortesia do Larousse de Poche, édition 2006). Resumindo, pastiche é uma cópia, que pode ser barata ou não, de um original, que pode ser genial. Ou não.

Pastiches são minhas nêmesis culturais, principalmente quando se quer dar uma mostra de provincianismo bobo e falta de reconhecimento do que se produz por estas plagas. É o que motiva aquele sentimento da classe média "Miami-like" que nos proporciona espetáculos como, digamos, férias na Disneyworld na excursão da CVC, estátua da Liberdade em shopping carioca (nisso estou junto com seu Ariano Suassuna) e... huh... movimento "Cansei"?

Mas, aproveitando o inverno daqui, me impressiona o hype que se faz, ou pelo menos se fazia, na comparação de Garanhuns e Gravatá com a Suíça. Pombas, qual o problema em se fazer uma estância climática com características locais? Não que isso não ocorra, mas acho meio deslocado fazer uma construção de taipa européia no meio da cidade quando, por exemplo, ao redor existem prédios históricos datando do final do século XIX e início do século XX e que, quando restaurados, ficam muito bonitos e dizem mais sobre a consciência coletiva dos seus habitantes que a réplica de uma praça de Munique. Em Garanhuns, muito do que a cidade realmente é está preservado, como magníficas casas e prédios públicos do período referido, parques, praças repletas de árvores e a sensação de aconchego que normalmente só se sente na casa da avó (e vivas aos cobertores feitos de saco de açúcar!).

Já o pastiche foi responsável por aquilo que na minha opinião é um dos maiores crimes ambientais já perpetrados no Estado de Pernambuco, motivado também pela especulação imobiliária, em Gravatá: centenas de hectares de mata de altitude nativa desmatada para dar lugar a condomínios de luxo para dar a, em grande medida recifenses, a sensação da realidade sem a realidade propriamente dita: vida de fazenda em casas com mais comodidades que uma casa comum em, digamos, Casa Amarela ou Iputinga. Vive-se no campo, mas sem o fedor de bosta e as moscas do curral. Além disso, minas naturais de água perderam aquilo que servia como acumulador de águas pluviais com a abertura destes campos onde, geralmente, não se cria uma única cabeça de gado sequer.

No entanto, nada me admira mais que as construções de Triunfo. Neste caso, não houve intenção proposital de construir um estilo "europeu-fake", mas a influência trazida pelos industriais ingleses misturou-se com as construções pré-existentes ainda do período colonial português. Ou seja, o processo ocorreu sem forçação de barra. O resultado? Igrejas e construções neo-góticas dividem espaço com o rococó e neoclássico de casarões antigos, enquanto que as cercas baixas de pedra, que volta e meia você pode encontrar em outras partes do Nordeste, fazem com que você se sinta em, digamos, Bretanha francesa, Devonshire inglês, Galiza hispano-portuguesa ou Donegal irlandês. E, de quebra, ainda combinam com os raros engenhos de cana-de-açúcar de altitude (pequenas propriedades com menos de 200 hectares nas encostas de serra), cuja cachaça acompanha com perfeição o almoço de carne de bode assada na brasa, jerimum cozido e arroz roxo com leite.

(e não, ninguém me pagou pra escrever isso)

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