8 de agosto de 2007

Deus Ex Machina

Esta expressão latina significa, literalmente, "Deus saído de uma máquina". Ela designa um recurso muito utilizado no teatro grego, no qual em certos momentos de uma peça de teatro um ator vestido de deus grego desceria de uma gaiola na ponta de uma espécie de guindaste primitivo para oferecer um destino até então inimaginado para o roteiro, pelo menos com os elementos dados até então. Normalmente recorrem a objetos ou pessoas fantásticas ou improváveis dentro daquele universo.

São poucos os autores de obras literárias, peças de teatro e filmes que utilizam este recurso, quer por olhar como algo "brega e demodé" ou por não saber exatamente como incluir o tal recurso em sua obra, mesmo quando o roteiro permite (ou, mais freqëntemente, nos dois casos). E a "teledramaturgia brasileira" (leia-se novelas da Grôbo) raramente coloca algo assim, pelo que percebi neste período do limbo de minha vida.

De minha parte eu não estou nem aí. Mas minha mãe reclama tanto das personagens (tomada pela catarse que acomete muitas noveleiras) e principalmente dos vilões que eu sugeri algumas alterações no enredo de certas "obradas":

- Mocinha da novela das oito é presa contra a vontade em uma "clínica", na verdade um verdadeiro gulag carioca: Simples. O par rômantico dela é rico, né? Contrata uns mercenários vestidos com estilosas roupas camufladas de preto e cinza e submetralhadoras pra invadir o local, no melhor estilo "Rambo" ou "Duro de Matar";

- Bruxa da novela das seis hipnotiza ingênua enfermeira para que esta veja seu rosto sempre deformado: Minha inspiração desta vez vem de meu anime preferido, "Cavaleiros do Zodíaco". Neste anime, o cavaleiro de ouro mais forte, Shaka de Virgem, derrota seus inimigos expondo-os ao ridículo de suas próprias ações frente à eternidade e ao desconhecimento da transitoriedade das coisas, uma vez que o mesmo é budista e considerado o homem mais próximo da iluminação. Desta forma, meu Deus ex machina desta situação seria um lama budista que, ao perceber as tentativas de maquinação da vilã, sorri com um sorriso amarelo (porém franco), mantém a expressão de meditação e diz, calmamente: "seus sortilégios nada mais são do que um pulo de um macaco na palma da mão de Buda...".

- Patricinha loira engana mocinha morena para ficar com o namorado da última: Curto e grosso - ponho as duas pra brigar no gel e quem vencer leva o zé-mané.

Não preciso nem dizer que minha mãe não gostou nada das versões. Minha resposta pra ela foi fácil e rápida: primeiro, deixe de reclamar com personagens que só existem no plano das idéias; segundo, a novela é tão ruim que até mesmo um absurdo desses poderia dar uma melhoradinha...

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