5 de novembro de 2007

Luz No Fim do Túnel

Matéria recente da FSP, via BBC Brasil, dá conta que uma universidade sueca, o Instituto Karolinska, está muito próximo de desenvolver uma vacina contra a Aids bem sucedida. Testes feitos até agora com 40 voluntários mostraram uma taxa de imunização de 97%, o que qualifica a vacina a partir para a próxima fase, com 60 voluntários na Tanzânia. O processo consiste na aplicação de duas vacinas, sendo que a primeira foi desenvolvida em conjunto com uma agência governamental sueca e a segunda foi cedida pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.

Algumas coisas a serem percebidas.

Primeiro, o Instituto Karolinska é uma das melhores faculdades de medicina da Suécia, e sonho de consumo de uma amiga minha aspirante a médica (neste momento perdida em algum lugar da Lapônia sueca). Foi fundado em 1810 como um centro de pesquisas médicas para o exército sueco, e logo caiu nas graças de algum rei, que acabou herdando seu nome (Karolinska Institutet = algo como "Instituto Carlino", ou de Carlos).

E é pública, como todas as universidades suecas.

Cá entre nós, sempre que se reclama da universidade pública ou da morosidade da pesquisa médica, alguém surge logo com a solução mágica de privatizar as universidades ou colocar toda a pesquisa científica, inclusive de questões estratégicas, nas mãos da iniciativa privada. Uma solução mais interessante e já proposta pelo Hermenauta (com um pano de fundo já existente) consiste na implantação de um prêmio para motivar quem desenvolva determinado avanço científico, bem sucedido no caso da aviação e nos vôos espaciais civis. Mas retornando à velha pergunta: um desenvolvimento científico privado vai realmente ser aproveitado por toda a humanidade?

Voltando às ciências médicas, é sabido que as indústrias farmacêuticas hoje formam uma verdadeira máfia, uma verdadeira tríade chinesa no monopólio de remédios considerados importantíssimos para a manutenção da saúde mundial. No entanto, remédios avançados para doenças como o câncer e a Aids são vendidos com preços pela hora da morte. O caso da Aids pode ser considerado ainda mais dramático, uma vez que existem países africanos no qual mais de 50% da população ativa estão com o vírus, e a quebra da patente (chefiada pelo então ministro da saúde tucano, José Serra) dos remédios do coquetel anti-Aids foi providencial.

Pode-se argumentar que a participação do referido instituto americano foi motivada por este contar com os avanços das indústrias médicas de lá. O problema é que esse instituto é público, e, como muitas instituições públicas americanas (a exemplo da PBS e da NOAA) muitas vezes vai de encontro com governos neocons, a exemplo do atual. Sozinhos, os NHI (e o responsável pela segunda vacina, o de alergia e doenças infecciosas) são responsáveis por quase um terço do montante gasto em pesquisa médica nos EUA, sendo o restante composto pelas empresas.

Num mundo em que se alardeia aos quatro ventos a necessidade de reduzir a participação do Estado na vida dos cidadãos e entregar as prioridades de produção ao mercado, iniciativas como esta mostram a força que possui um governo preocupado com o bem-estar de seus cidadãos e a possibilidade real de eficiência (e mais que isso, vanguarda) de uma instituição pública, que para chegar a tal objetivo não necessita mais que boa administração dos recursos envolvidos. Nem sempre isso é alcançado no caso das empresas privadas, visto o caso de empresas como a Cisco, Enron, Encol, Aracruz Celulose...

Um comentário:

Unknown disse...

Concordo com tudo.
Mas a Suécia é a Suécia. Sei lá, as pessoas são programadas quando nascem, algo assim. "Insert: public concern". (Em sueco, claro :P)