30 de novembro de 2007

Tão Longe, Tão Perto

Nesta semana, um motim nas Filipinas liderado por soldados que enfrentavam julgamento por outro motim anteriormente ocorrido no início da década foi debelado por tropas do governo, que invadiram o hotel onde os amotinados estavam de uma maneira extremamente sutil: jogaram um blindado dentro do hall. Eles foram presos, juntamente com alguns jornalistas que cobriam o evento, e vão enfrentar outro processo militar.

Alguém aqui conhece a história das Filipinas desde a sua independência "formal" em 1898 e a "de facto" em 1946?

Como se sabe, as Filipinas, junto com Cuba e Porto Rico, foram alguns dos últimos bastiões do imperialismo espanhol fora do Marrocos, Saara Ocidental e da Guiné Equatorial. Foi aí que se tornaram o primeiro bastião do imperialismo americano, servindo como domínios de fato ainda que os ianques não gostassem muito de admitir que estavam fazendo o mesmo jogo dos europeus que fingiam ter ojeriza.

A questão é que os filipinos, desde alguns anos antes da guerra Hispano-Americana, já travavam uma luta de independência sangrenta, liderada pelo general Emilio Aguinaldo, uma espécie de Simon Bolívar do Sudeste Asiático. Só que a revolta, que se prolongou pelos primeiros anos de domínio americano, foi sufocada. As coisas ficaram relativamente na mesma até a Segunda Guerra e a invasão japonesa, que fez a parca administração norte-americana acabar de vez tendo em vista o esforço de guerra em outras partes do Pacífico. Sob muitos aspectos, os filipinos lutaram sozinhos e isso reacendeu o nacionalismo deles, que finalmente ganharam a independência em 1946.

Ganhar a independência, na verdade, é apenas uma maneira simpática de falar sobre os fatos. Os EUA deram apoio para sufocar rebeliões comunistas e islâmicas, mantendo no poder um calhorda como Ferdinand Marcos (sem esquecer de sua "adorável" Imelda, a dos trocentos pares de sapato). Em troca, Marcos deixou os EUA usarem o país como base de contenção do comunismo na região do Extremo Oriente. Isso não matou a guerrilha, que continuou a combater no meio das florestas e montanhas, nem a oposição, que ganhou novo alento com a liderança do líder exilado Benigno Aquino.

Num momento em que as pressões populares por redemocratização aumentaram, Marcos permitiu que Aquino voltasse ao país, embora ele fosse morto por um atirador praticamente na escada do avião. A esposa de Aquino, Corazón, retomou a luta pelo fim da ditadura e eventualmente conseguiu, vencendo as primeiras eleições e depois passando a faixa presidencial para Fidel Ramos, seguido depois pela atual presidente Gloria Arroyo.

Depois de ler essa história, eu fiquei impressionado em como eles poderiam perfeitamente ser uma república das bananas típica da América Central. Certo que falam o filipino, que pouco tem a ver com o espanhol, mas a sucessão de golpes, contra-golpes, guerrilhas rurais e intervenção americana, até mesmo um proto-caudilho na história...

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