20 de novembro de 2007

Wishful Thinking (2)

"Recife, duas da tarde. Em algum dia do final de janeiro de 2008. A uma semana do início do campeonato pernambucano.

O líder do movimento popular que tomara de assalto o Santa Cruz Futebol Clube estava à beira do gramado do Estádio do Arruda, em Recife. Em volta, tinha pelo menos uma centena de marmanjos participando de uma peneira. Nas arquibancadas, alguns milhares de pessoas assistindo a peneira. Em determinado momento, ele começou a lembrar o que acontecera até então.

Depois da tomada do Arruda, parecia que as coisas não iriam se sustentar. A diretoria antiga começou a mover um processo atrás do outro contra os líderes do movimento 'Viva Santa Cruz', os patrocinadores oficiais sumiram, até o fornecedor de material esportivo debandou. Era uma sorte que a CBF e a FPF continuaram a reconhecer o time e a garantir sua vaga nas divisões e campeonatos em que estava. Pressão de um certo senador magrelo.

Era hora de apelar para o mesmo movimento que se apossara do clube. De pronto, um monte de gente apareceu para trabalhar na reforma do estádio, inclusive engenheiros. Pequenos negócios se ofereceram a custear algumas despesas do clube. Mas isso não era suficiente, até porque o clube precisaria viajar e muito nos próximos dias. Era preciso economizar nos jogadores.

Foi aí que alguém surgiu com a idéia para apelar para os torcedores do tricolor. E ficara decidido que, em toda pelada de society, barrinha de meio de rua, e campeonato de sítio com regras 'pescoço pra baixo é canela', se procuraria algum tricolor bom de bola e que estivesse disposto a recuperar seu time de coração, estaria convocado a dar sua contribuição.

Muitos afluíram para o Arruda, mas só uns poucos poderiam se aproveitar. O salário também fez muita gente decidir: ajuda de custo para cobrir as despesas mais básicas, e só. A folha de pagamento estava do tamanho da de um time do interior. Sorte que o patrocínio de muitas pessoas surgiu, pelo simples prazer de contribuir para uma verdadeira democracia futebolística, da forma como estava.

Voltando à peneira final, de 100 jogadores, a aclamação popular servia de termômetro para saber se determinado jogador agradava ou não. Estudantes e profissionais de educação física olhavam a habilidade dos futuros craques, e médicos avaliavam na hora sua condição fisiológica. Ao final do dia, muito aplaudidos, eram formados um time de titulares, um time de reservas e um time sub-23. Cada um recebeu um jogo de padrões de casa e fora - costurados por muito orgulho por um grupo de senhoras do bairro. Não havia nem uniforme de treino e os jogadores teriam de manter as roupas. Lavar e passar, para aprender a ter amor pelo clube.

Dando um pequeno salto no tempo, a tática rendeu resultados. A raiva com que os jogadores jogaram contra o Sport deixou o time com 2 jogadores suspensos por carrinhos violentos, um sem-número de cartões amarelos, mas garantiu uma vitória suada por 1 x 0 na Ilha do Retiro. A mesma coisa aconteceu na final do estadual, contra o Náutico. Na Copa do Brasil, chegaram até a terceira rodada, sendo eliminados pela Portuguesa."

(continua)

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