7 de julho de 2007

Cabeça de Turco

Hoje fiz minha primeira avaliação preparatória para a prova do Inst. Rio Branco do ano que vem. Uma prova de Geografia da terceira fase de 2006. Algo que me chamou a atenção foi a terceira questão, na qual se perguntava quais os motivos que poderiam levar o Reino Unido a apoiar a entrada da Turquia na União Européia, ao contrário das reticências por parte de alemães e franceses.

Pessoalmente, não gostei da melhor resposta dada pelos candidatos na ocasião, que foi argumentar que os turcos serviriam como ponte de diálogo entre o Ocidente e o Oriente Médio, incrementar o comércio entre os dois países e ainda contrabalancear o enorme peso político dos franceses e alemães dentro da União a favor dos ingleses. Ora, tirando o último motivo, embora tal fim pudesse ser alcançado fazendo uma aliança com aqueles neofascistas do Leste Europeu, os outros objetivos na prática já estão alcançados: um número considerável de ingleses já vão passar férias nas praias do litoral sul turco, além de fornecer itens agrícolas subtropicais em boa quantidade, o que já responde por grande parte do aporte de dinheiro estrangeiro na Turquia (investimentos industriais, principalmente no setor automobilístico, fazem com que Ancara tenha influência no máximo no Leste Europeu).

Segundo, os turcos já servem de ponto de contato entre Ocidente e Oriente acho que desde a revolução do Atatürk na década de 20. A entrada do país na OTAN, então, fez com que eles ficassem ainda mais próximos da Europa do que do resto do Oriente Médio (por mais que esperneie o Sarkozy). O problema é que essa aproximação do Ocidente fez com que a alternativa turca, nos últimos 30 anos, ficasse menos tentadora que a alternativa oferecida pela revolução iraniana ou o despotismo esclarecido dos emires do Golfo, para o Oriente Médio. Quer queira, quer não, a democracia constituída na Turquia no século XX a colocou muito mais distante do Oriente Médio, a ponto de sua influência se fazer sentir pelo temor ao seu massivo exército, apesar de sua capacidade de projeção não ser exatamente das maiores fora do escopo da aliança do Atlântico Norte.

O mais correto, então, seria dizer que os turcos proporcionariam um enorme mercado consumidor e uma propaganda positiva da Europa através da integração de um país de maioria muçulmana, embora essa vantagem seria praticamente anulada com o aumento da imigração turca e com a invasão de deputados turcos no parlamento europeu, na visão dos principais países do bloco. O que colocaria o Reino Unido numa posição de indiferença semelhante à alemã neste caso.

Ou talvez a pergunta tenha sido apenas mal-formulada ou aberta a múltiplas interpretações.

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