20 de julho de 2007

O Patronímico na Cultura Nordestina

Foi escrevendo o último post que percebi o quanto se usa o patronímico de maneira informal por aqui. Não na minha geração, já sob pesada influência da cultura de massa (que, em nosso país, significa a homogeinização vinda através da Globo carioca), mas principalmente na geração imediatamente anterior, a de nossos pais. A coisa mais normal do mundo pra eles é referir-se a alguém, geralmente com um homônimo muito próximo, como Fulano filho de Sicrano, ou Sicrana, já que até o matronímico também é corrente. Em muitos casos até mais comum.

O uso mais próximo de nós é em nossa própria língua, e em muitas línguas latinas. A partícula "de" remonta a um ancestral comum, geralmente nobre. No português do Brasil a coisa avacalhou um pouco, mas na França ter um nome com "de" muitas vezes é um indicativo de que o portador do nome é um riquinho pedante.

Na Indonésia não existem sobrenomes, mas às vezes pode-se usar um nome relativo a um ancestral imediato para reclamar títulos de nobreza. A ex-presidente "energética", Megawati Sukarnoputri, provavelmente quis aproveitar o prestígio que o pai dela, só Sukarno, tem como libertador do país contra os holandeses. Na Rússia existem sobrenomes, mas todo mundo tem um patronímico, o nome do meio, que varia de acordo com o sexo da pessoa e com o nome do pai. Dessa forma, alguém cujo pai se chama, digamos, Nikolai, pode ter o nome Nikolaievitch ou Nikolaievna, respectivamente homem e mulher.

Também existe com uma raiz diferente através da língua inglesa. Nomes como Johnson, Robson, Benson, e mais um monte remontam a um passado no qual o patriarca da família era John, Robert ou Benjamin. Na Irlanda e na Escócia, países de tradição céltica, quem cumpre esse papel é o Mac- anterior a cada sobrenome, ou na sua anglicização irlandesa e contração de of, O'.

Mas a situação mais próxima de nós, e que curiosamente nos interessa mais apesar de tão distante, está nos vikings antigos e em seu resultado moderno, os islandeses e faroeses. Nestes países (lembrando que as Faroe são ilhas-dependência dinamarquesas), não existem sobrenomes no sentido estrito da palavra, mas apenas um patronímico (ou matronímico) que é seguido à risca, sob pena de não receber registro no cartório, com raras exceções. Por exemplo, a famosa cantora se chama Björk Guðmundsdóttir, enquanto que o vocalista do Sigur Rós (por sua vez uma versão estilizada do nome de sua irmã, Sígurrós) é Jón Þór Birgisson.

Essas criaturas de nomes estranhíssimos (o ð se pronuncia como o th- de the e o Þ como o th- de through) na verdade possuem uma raiz muito simples, e um pouco de inglês ajuda a matar a charada. Dóttir significa filha em islandês, e són significa filho. Pegando a raiz de cada patronímico ou matronímico, dá pra ver que Björk é filha de um sujeito chamado Guðmund, enquanto que Jón é filho de uma cristã (imagino) chamada Birgit. Em faroês é basicamente a mesma coisa, já que as duas línguas são praticamente idênticas.

[ironia]Ah, o Nordeste e suas raízes européias medievais...[/ironia]

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