30 de julho de 2007

A Crônica e Eu

Ok, me perdoem os grossos volumes de Dostoiévski e Tolstói, a longa viagem perpetrada por Joyce e García Márquez, as peças de teatro de Ariano Suassuna e William Shakespeare, mas meu estilo literário preferido ainda é a crônica. Sou suspeito pra falar, como jornalista, mas, como quem entra aqui neste blog/confeitaria o faz porque quer, então ouve e come também o que eu produzo. Vamos lá.

A crônica começou como um simples método de narrar fatos em ordem cronológica, falando, em alguns casos, da história de um povo da mesma maneira que um jornal moderno faria (com algum atraso, mas enfim). Existem crônicas desde o primeiro milênio antes da era cristã, na China, bem como também na Grécia e Roma antigas. Uma crônica, o Kojiki, chegou a tornar-se base para uma das religiões mais antigas do mundo, o xintoísmo.

Ela também entrou como parte da narrativa cotidiana dos jornais, só que escrita de uma forma elaborada e com requintes artísticos normalmente não encontrados no texto jornalístico. Jornalismo não é literatura, já dizia o gaúcho Vizeu nas minhas aulas lá na UFPE. Mas crônica, na minha opinião, não deixa de ser uma forma de jornalismo.

Isso não impediu que livros e livros de crônicas escritas diariamente fossem compilados e vendidos, alguns sendo até sucessos de vendas. Grandes escritores tornaram-se mestres da palavra na língua portuguesa utilizando este estilo, como Luís Fernando Veríssimo, Carlos Eduardo Novaes e Stanislaw Ponte Preta. Outros transitaram entre outros estilos mas não deixaram de dar sua canja nas páginas dos periódicos, como Drummond, Clarice Lispector, Millôr, Moacyr Scliar, e tantos outros.

O que mais me atrai neste estilo é justamente a sua atualidade, bem como uma maneira interessante (e na maioria das vezes, charmosa e elegante) de mostrar os fatos do cotidiano. O uso da ironia e do sarcasmo, por influências destes escritores, tornou-se coisa corriqueira entre cronistas de qualquer lugar do país, mas nem sempre com a mesma sagacidade. Como se tivessem, inadvertidamente, aberto a caixa de Pandora das mazelas da produção literária em jornais. Mas não se enganem: é preciso jeito para fazer uma boa crônica.

P.S.: obviamente, não estou querendo dizer aqui que eu tenha. Pra falar a verdade, acho que não tenho nenhum, o que me impediu de escrever algo mais interessante e menos factual por aqui.
P.P.S.: quer indicativo maior de inveja dos cronistas que o post scriptum acima?

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