27 de setembro de 2007

Joabas e Moaças

- Você poderia ir naquele campo lá nos mangues da Baía, pros lados de Niterói. Ainda está ativo, tem gente que ainda joga bola por lá.

Eu nunca fui ao Rio de Janeiro, por isso se me colocassem em, sei lá, Ouagadougou me dizendo que era lá, eu acreditaria. Por isso acreditei fielmente na palavra dos meus interlocutores, sentados na areia de frente para o mar em um lugar que lembrava e muito o Arpoador. De frente para eles e de costas para o mar, eu via o sol da tarde refletindo nos prédios da avenida logo atrás.

De repente, eu estava em um barco a motor pequeno, desses de pesca, chegando nos tais mangues. Eu começo a divisar, a uma certa distância, um campinho de grama baixa e seca, pouco mais alto que o nível das margens, aberto no meio do mangue. Dois times estavam, de fato, jogando por lá, já que dava para ouvir a movimentação típica de jogo de futebol. Desço, arrasto o barco e vou para a beira do gramado de várzea (literalmente).

Qual foi a minha surpresa quando vi que os dois times em peleja eram femininos. De um lado, estava um vestindo camisas vermelhas, do outro lado camisas rosa vivo. E todas eram mulheres lindas. Tá, mulheres e lindas é maneira de dizer. As faixas etárias circulavam entre os 17 e os 24 anos. E nem sempre as mesmas se encaixavam nos padrões de beleza ocidentais propagados a torto e a direito pela publicidade e indústria cultural. Mas a vivacidade, o sorriso nos rostos iluminados por aquele sol de fim de tarde... E havia, acho, uma representação dos mais diversos biotipos da sociedade brasileira lá. Pra todos os gostos: ruiva descendente de poloneses, mulata de algum bairro "decadence avec élegance" do Rio, índia guarani, loirinha descendente de alemã, descendente de italianos do cabelo castanho-claro e olhos verdes, nikkei da Liberdade...

Havia uma beldade de vermelho fora do campo e perto de onde eu estava, num banquinho tosco de madeira. Parece que havia sido substituída há pouco tempo. Cabelo preto preso em trança, moça da boca carnuda e de aparelhos tímidos nos dentes. Pergunto a ela qual o esquema daquele jogo, e ela me responde que elas jogavam ali sempre, todo sábado à tarde. As de vermelho faziam parte de um time chamado Moaças (?) e as de rosa eram as Joabas (???).

Lógico que eu me perguntei o que aquele monte de mulher estava fazendo naquele buraco e a razão para aqueles nomes de times esquisitos. Mas deu pra entender que se tratava de coisa antiga, acordo de amizade que se faz na terceira série. E eu também estava muito ocupado olhando a graciosidade do jogo delas. Não era uma seleção feminina da CBF, mas elas colocavam amor naquilo que faziam. E pombas, era uma questão de aproveitar a vida. O jogo ali era um mero pretexto para se encontrarem, rirem um pouco, e terem mais um assunto para conversar depois, quando saíssem. Elas se abraçavam para comemorar um gol chorado, riam que riam. E aqueles rostos se iluminavam.

Droga. Eu estou solteiro. E, pelo sonho, quem realmente poderia resolver meu problema mora longe, longe...

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