1 de outubro de 2007

Marta e a Bola, Bola e Marta

Há quem diga que é melhor perder como a seleção brasileira de 1982 (de Zico, Júnior, Sócrates, Falcão...) que ganhar como a de 1994 (de gente não menos boa como Branco, Raí, Taffarel...). Eu sou desses que concorda com a frase. E também acho que ela se aplica perfeitamente à seleção feminina que perdeu a final ontem, por 2 x 0, para a Alemanha.

A impressão que eu tive, vendo o jogo, foi a de que os esterótipos normalmente aplicados aos estilos de jogar das respectivas seleções masculinas puderam ser aplicados às femininas. As brasileiras tentaram fazer o jogo bonito que vinham fazendo já desde o início da competição. Chapéus, dribles geniais, futebol arte, lindo como uma pintura de Michellangelo ou de van Dijk. Mas deve ter sido por isso também que a Itália não ficou na vanguarda do desenvolvimento da Europa, e o mesmo motivo pelo qual o capitalismo holandês dos séculos XVI e XVII não se sustentou durante muito tempo...

Em compensação, a Alemanha jogou feito uma máquina. Precisa como uma ferramenta da Bosch, como um canhão Krupp, como um carro da Audi (Vörsprung durch Technik, lembra?). Fundamentos perfeitos, marcação perfeita, ataques perfeitos. Mas, sinceramente, o futebol mais feio que já vi, e olha que isso não é bolinho para alguém que já assistiu o Grêmio x Boca Juniors da final da Libertadores desse ano. Mas serviu.

Deve ser por isso que o peso da derrota não caiu como uma pedra sobre as costas do Brasil (e não, eu não credito essa indiferença ao preconceito do brasileiro com o futebol feminino - até porque metade do Brasil, as brasileiras, viram e gostaram). Fato é que, antes de ganhar, qualquer seleção brasileira tem a obrigação de jogar bonito. Está no nosso inconsciente. Fomos mal(?)-acostumados por Garrincha, Pelé, e uma penca de outros. Que se pode fazer? É por isso que nós ficamos com tanta raiva de o Ronaldinho fazer aqueles malabarismos no Barcelona e murchar a bola na Seleção (e naquele 1 x 0 para a França). É por isso também que nós (menos os gremistas) nos sentimos vingados por Alexandre Pato naquela final de Mundial, apesar de ser cedo para afirmar qualquer coisa sobre ele. É por isso que se valoriza mais o jogador que perde um jogo mas demonstra raça, amor à camisa e encara o jogo como se fosse um espetáculo, do que aquele que faz o feijão com arroz mal-temperado e ganha por 1 x 0. Ou até mesmo 0,5 x 0.

Na visão de Marta, a sorte a abandonou. Eu não seria tão pessimista assim.

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